São tantos os candidatos prometendo mudanças em Alagoas – em especial em Maceió – que aqueles que não forem eleitos já terão, ao menos, experiência teórica para entregar seus currículos na Granero.
Todavia, como alguns já estão tão acostumados à velocidade inerente à própria condição de “agente público” pode ser que enfrentem desafios ainda maiores quando se depararem com as exigências oriundas da carteira azulzinha que faz parte das contratualizações da iniciativa privada.
Deixando as ironias e o sarcasmo de lado (essa maravilhosa ferramenta de desnudar mitos), o eleitor com memória e com o bom senso mais apurado vai se deparar com as opções postas para o comando do Executivo municipal da capital alagoana e – dificilmente – enxergará nesses qualquer possibilidade de mudança.
Oposição e situação, por essas bandas, se resumem às circunstâncias da eleição, assim como a disputa pela composição da futura Câmara Municipal de Maceió agrega candidatos, em uma sopa de letrinhas, pela mera matemática eleitoral, na busca pelo cociente do pleito.
Em sua mais recente propaganda eleitoral, por exemplo, o candidato a prefeito e deputado federal João Henrique Caldas, o JHC (PSB), se coloca como o “contra o sistema” e a “mudança verdadeira”. É verdade que JHC não está ligado aos caciques do calheirismo - os Renans Calheiros do MDB – e se encontra afastado do time da Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas, que dispensa apresentação biográfica.
Porém, em 2018, quando se reelegeu deputado federal, o PSB de JHC estava na seguinte composição política: PTC / PSDB / PP / PSB / PSC / PROS / PRB / DEM. Procurem onde esses partidos se encontram hoje... Forças das circunstâncias, dirão! Mas é isso mesmo, essas “forças” sempre estão acima das “mudanças verdadeiras”. E aí, cada eleição conta a sua história e guarda na memória do eleitor os questionamentos e relação às incoerências. Afinal, no mínimo, JHC teve que se beneficiar do sistema e das ajudas de seus hoje rivais para construir sua reeleição.
Além disso, o candidato antissistema teve que aceitar – goela abaixo – a união com o PDT do ex-governador Ronaldo Lessa, hoje vice em sua chapa, por conta do caciquismo do progressismo que quer reconstruir a esquerda nacional para 2022, tendo como candidato à presidência Ciro Gomes (PDT). Nada mais retrógrado na política que essas imposições. Tanto que – aqui em Alagoas – JHC busca esconder esse projeto para não se indispor com parcela do eleitorado, por conta dele estar dentro de uma conjuntura “anti-bolsonarista”.
Aqui sou eu que falo e sem medo de errar: JHC foi surpreendido a ter Lessa como vice. Não era o vice dos seus sonhos.
JHC sequer é o candidato avesso ao “filhotismo político” característica presente na candidatura de seu rival Davi Davino Filho (Progressistas), que é filho do vereador Davi Davino (Progressistas). João Caldas – o ex-deputado federal – prova isso.
Porém, se tudo isso faz parte da trajetória política de JHC, que hoje se orgulha de não ter rabo preso para as mudanças, alguém pode ter a tentação de enxergar Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB) como um candidato independente por ser oriundo do Ministério Público Estadual e por nunca ter sido testado nas urnas. Ledo engano!
Gaspar de Mendonça tem méritos, assim como JHC tem. O primeiro foi um bom secretário de Segurança Pública, dentre outros pontos. JHC teve a coragem de desafiar o parlamento estadual e escancarar uma caixa-preta. É preciso reconhecer os méritos. Porém, isso não livra Gaspar de Mendonça pela forma que entrou no jogo...
Alfredo Gaspar está tentando ser, nessas eleições, tudo aquilo que poderia ter sido caso não tivesse o apoio das duas máquinas: o governo do Estado emedebista dos Calheiros e a prefeitura de Rui Palmeira (sem partido). Não por acaso, Gaspar de Mendonça tem sempre que lembrar em seu discurso que é independente, que tem o apoio dos caciques, mas que não se submete a eles e que – como disse mais recentemente – ninguém vai colocar uma coleira nele.
O que Alfredo Gaspar cederia ou não, aí só a história poderá responder caso seja eleito. O fato é que muito do seu discurso de independência e de ruptura foi embora. O próprio jingle do candidato mostra que falar em mudança é algo desconfortável, quando diz que “Maceió vai dá uma volta por cima”. Como?! Seria uma volta por cima das forças políticas que hoje o apoiam?!
Sem contar com o seguinte: na história do MDB alagoano, qualquer protagonismo resta submetido à vontade dos Calheiros – Renan pai e Renan Filho – como mostram os recentes acontecimentos envolvendo o vice-governador Luciano Barbosa (MDB).
Nesse sentido, o MDB por si só é um território de domínios, e qualquer voo maior que Gaspar de Mendonça queira pode incluir, já de saída, a necessidade de não mais estar na agremiação que hoje lhe acolhe. Alfredo Gaspar não é menino! Ele sabe muito bem o ônus e o bônus do peso dos Renans.
E por que não falar de Rui Palmeira? Bem, o prefeito de Maceió – ex-tucano – saiu do PSDB, mas o PSDB parece ainda não ter saído dele. Rui Palmeira foi o coveiro de um grupo político que poderia ter se firmado em oposição a Renan Calheiros e ainda ofertou a Gaspar de Mendonça, como vice, o maior crítico de Renan Calheiros presente em sua gestão: o ex-secretário de Governo, Tácio Melo. Como Tácio Melo mudou de opinião tão rápido? As mágicas da política.
Já o também candidato e deputado estadual Davi Davino (Progressistas), que aumentou o tom de críticas ao prefeito Rui Palmeira no guia eleitoral, mostrando o que o ex-tucano deixou ou não de fazer, parece ter esquecido muito rapidamente que o seu partido foi – durante quase oito anos – o principal parceiro da administração de Palmeira. Era a legenda do vice-prefeito Marcelo Palmeira, que hoje se encontra no PSC.
Em passado bem recente, Davi Davino – inclusive – chegou a abrir diálogo com Rui Palmeira para a construção de sua candidatura, dentro de uma disputa interna com Marcelo Palmeira. Não fosse o nome de Gaspar de Mendonça no jogo e diante da ausência de novas lideranças no PSDB, ele – Davi Davino – “correu até o risco” de ser o candidato de Palmeira. Duvido que tivesse negado essa condição.
Além disso, a candidatura de Davi Davino – que tem o melhor marketing dessas eleições municipais – contém algo que sua propaganda eleitoral não mostra: possui o apoio do que há de mais retrógrado da Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas. Ele é também o candidato do deputado federal do Centrão, Arthur Lira (Progressistas).
Fora desse espectro, as candidaturas mais esquerdistas possuem um componente retrógrado bem maior: há por lá os que ainda acreditam no socialismo romântico, o partido que apoiou a Venezuela, os que morrem de amores pelo Foro de São Paulo e os que brilham os olhinhos ao ouvir a palavra “comunismo”, esse regime nefasto, genocida e marcado pela miséria e pelo sangue. Alguns chegam a ser folclóricos.
Josan Leite – o único candidato que se assume verdadeiramente de direita – não te conseguido deslanchar, não consegue associar sua imagem a do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o que não é apenas culpa dele, evidentemente... E tem limitações incríveis para se comunicar com a maior parcela da população. Uma candidatura que tende a não crescer e que pode correr o risco de dialogar apenas como uma “bolha”, como ocorre com as esquerdas mais históricas.
Chegaremos ao dia 15 de novembro sem nada de novo no front...