A eleição para presidência da Câmara dos Deputados, em fevereiro de 2021, a proximidade com Jair Bolsonaro, as posições do presidente e a avaliação de assuntos como Centrão, Operação Lava Jato e programa Renda Cidadã foram alguns dos assuntos comentados pelo deputado federal Arthur Lira (Progressistas), líder do Centrão, em entrevista exclusiva ao CadaMinuto nesta sexta-feira (9), em Maceió.

Garantindo que nunca tratou com Bolsonaro sobre uma possível candidatura dele à presidência da Câmara, Lira confirmou que seu nome é ventilado e que “todo parlamentar sonha com o cargo”, mas só irá discutir o assunto mais profundamente após as eleições municipais, até para não usurpar o poder do atual presidente, Rodrigo Maia (DEM).

“Todas as nossas conversas (dele com Bolsonaro) foram para tratar de assuntos do país e de governabilidade... Sim, meu nome é ventilado para a disputa, mas ninguém se elege sozinho. Vamos construir essa sucessão dentro da Câmara. Não creio que o presidente da Câmara eleja seu sucessor sozinho, nem que o Poder Executivo eleja sozinho seu candidato. Tem que ser um somatório de forças”, destacou. 

Ocupando a liderança do Progressistas há seis anos e tendo ocupado vários cargos de confiança no parlamento, como a presidência da Comissão de Constituição e Justiça e presidência da Comissão Mista de Orçamento, o deputado analisa que está “creditado” à disputa: “Podemos pleitear, mas nada é estático em Brasília”.

Centrão e Comissão de Orçamento

O deputado voltou a rebater críticas à aproximação do governo federal do Centrão, frisando a posição de equilíbrio do bloco. “Houve um chamamento do presidente e fizemos uma base que dialoga, uma base participativa, que discute, aí facilita a vida do Executivo, do Legislativo e do país... Essa aproximação não tem nada de danosa, pelo contrário, todos os setores foram bem atendidos pelo Congresso Nacional e pelo Executivo durante a pandemia... O Centrão deu estabilidade política ao governo, o que ajuda o mercado. Nossa relação tem sido de proximidade e convergência de pensamentos”, disse.

Para Lira, o bloco que lidera é necessário e a base do equilíbrio no plenário. “Sem ele (Centrão) não haveria as reformas, não haveria pacto federativo, teto de gastos...”, pontuou, considerando que a aproximação de Bolsonaro com o Centrão não foi contraditória ao discurso de campanha do presidente.

“Como deputado, Bolsonaro sempre teve o perfil mais conservador e em defesa dos militares, sempre foi esse o padrão. Ele não cometeu estelionato eleitoral, ele não vendeu uma coisa e fez outra, mas é claro que não há como fazer uma gestão de base parlamentar sem coalizão, não há possibilidade”, pontuou.

Lira lembrou ainda que, em 2019 o presidente começou seguindo critérios técnicos e pessoais para nomeações de ministros, mas a governabilidade era necessária e foi feito o governo de coalização. Ele também rechaçou a ideia de que tal coalização se deu na base do “toma lá dá cá”: “Pelo contrário. Se pegar o meu partido, diferente de outros partidos que já faziam parte do governo (como o DEM, MDB), o PP e outros partidos do Centrão não tinham participação nenhuma no governo e o meu partido, por exemplo, votou 92% das pautas do governo em 2019. Nós não mudamos ideologicamente de posição para apoiar o governo”. 

Em relação ao imbróglio com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), envolvendo a indicação do presidente da Comissão Mista de Orçamento, Arthur Lira disse não ter dúvidas de que a indicação é do líder do maior bloco partidário: “Isso nunca foi descumprido. Como líder do maior bloco, indiquei a deputada Flávia Arruda, do PL, mas surge outra candidatura, uma candidatura do DEM, baseada em um entendimento que os partidos não reconhecem”.

Lava Jato e Renda Cidadã

Questionado sobre a Operação Lava Jato, o parlamentar alagoano destacou que ela cumpriu seu papel institucional com muitos acertos, mas também muitos erros e excessos. “A criminalização da política foi exagerada e a operação acabou gerando a quebra de empresas, gerando desemprego. Ao invés de condenar a Odebrecht, por exemplo, tinha que condenar os gestores”, avaliou.

O parlamentar também criticou a atuação do Ministério Público na esfera da operação: “O MP hoje é um órgão sem controle, nem interno, nem externo, e isso não é bom para a democracia. A operação acertou no objetivo principal de banir a corrupção, mas exagerou na politização da situação”. 

Sobre o programa Renda Cidadã, que o governo federal pretende implantar em substituição ao Bolsa Família, Lira defendeu que, se for necessária a criação de um imposto, ele seja diretamente ligado ao projeto. 

“Com a pandemia, o governo enxergou 23 milhões de pessoas que não existiam nem no Cadastro Único. É importante olhar para essas pessoas. O Renda Cidadã é imprescindível e precisamos encontrar uma solução para viabilizá-lo, temos que descobrir no que podemos mexer para viabilizar o programa.  O que está atrapalhando hoje não é nem a falta de recursos, mas o teto de gastos”, explicou, acrescentando que, diferente do Bolsa Família, o Renda Cidadã é um programa mais justo e inclusivo. 

Finalizando a entrevista, Lira analisou o possível cenário das próximas eleições presidenciais, em 2022. Ele disse acreditar que o PT ainda será o principal adversário de Bolsonaro, mas a sigla “terá que se reinventar, negociar com partidos para criar uma unidade de esquerda”. Para ele, no pleito deste ano a direita seguirá no protagonismo, reforçando a base eleitoral de Bolsonaro, na qual o programa Renda Cidadã irá interferir diretamente, ao “praticamente tomar a paternidade do Bolsa Família”.