O ensino híbrido, que já era conhecido por uma pequena parcela da sociedade, é uma das maiores tendências da Educação do século 21, onde busca promover uma mistura entre o ensino presencial e o ensino online – ou seja, integrando a Educação à tecnologia, que já permeia tantos aspectos da vida do estudante.
Mas engana-se quem pensa que basta colocar os estudantes na frente de computadores e deixar os estudantes sem qualquer orientação. Devido à pandemia, o assunto ganhou força entre os profissionais da educação no Brasil, que destacam que é preciso tomar cuidado, pois o referido modelo de ensino, poderá trazer serias consequências e tem sido implementado nas instituições de ensino sem que a comunidade perceba.
Ao CadaMinuto, a professora Gabriella Gama, que é mestra em enfermagem e contraria a essa metodologia de ensino, disse que é preciso explicar que, há um ensino remoto emergencial, numa proposta de retomada das atividades diante da suspensão das aulas presenciais, por conta da pandemia, mas que além desse, existe o ensino híbrido, que já existia antes mesmo do surgimento da pandemia, mas agora, tem ganhado força.
“Diferentemente de uma situação emergencial, o ensino hibrido ele é uma modalidade que cresce num contexto de flexibilização da carga horaria EAD nos cursos, inclusive nos cursos da saúde. Essa flexibilização, com o aumento da carga horaria EAD nos cursos, em até 40%, foi autorizada pela portaria 2.117 pelo Ministério da Educação (MEC), mas ao meu ver, essa flexibilização está totalmente ligada com a mercantilização da educação, trazendo muitos prejuízos ao processo de ensino e aprendizagem”, defendeu.
Ainda conforme a visão da mestra em enfermagem, empresas educacionais, estão usufruindo do contexto de pandemia para implantar o ensino híbrido, para que ele não seja percebido pelos estudantes.
“Muitos estudantes vivenciaram a transição do ensino remoto para o híbrido e nem ao menos perceberam e isso é algo muito preocupante. É inegável a importância da tecnologia no processo de ensino aprendizagem, entretanto é preciso chamar a atenção de toda a comunidade acadêmica, acerca de uma grande diferença, que é a diferença entre integração de educação e tecnologia e um contexto que se trata apenas de um repositório de conteúdo que estão soltos em uma plataforma. Educação não é isso”, disparou.
Questionada sobre as consequências da modalidade de ensino em seu curso, a professora acadêmica disse que elas vão além do processo de ensino e aprendizagem e acabam refletindo também na prática e no processo de trabalho em enfermagem.
“É preciso de uma formação crítica, reflexiva, científica e que precisa compreender questões de natureza ética, política e social, além das questões técnicas. Tudo isso que estamos vivenciando, colabora com a precarização da educação e também da profissão como um todo”, finalizou.
”Essa modalidade não dá certo, principalmente na área da saúde” , diz estudante
A jovem Danila Bandeira, de 42 anos, aluna de enfermagem do oitavo período, contou que a modalidade de ensino híbrido se torna ainda mais complicada para alunos na área da saúde. “Em relação às aulas práticas, essa modalidade não dá certo, principalmente na área de saúde. Não têm como você fazer uma boa pratica, se você não tem uma boa teoria. Então, para ser um bom profissional, para chegar lá no seu trabalho, com seu conhecimento, independentemente de ter prática você tem que ter um embasamento muito bom e esse sistema está deixando a desejar” disse a estudante.
Ainda segundo Danila, os alunos sentem dificuldades para tirar dúvidas e acompanhar o assunto. “Nós alunos, temos que entrar no ensino hibrido, estudar um outro assunto, não temos como tirar dúvidas com nenhum professor, não tem um fórum não tem nada. O professor que dá a aula remota não está sendo pago para tirar nossas duvidas das aulas híbridas, porque a carga horaria dele foi diminuída. Então, ele não tem mais essa obrigação de nos orientar nesse conteúdo hibrido e também não tem como ele dá continuidade se já é um novo assunto. A partir disso, já começa a cair nosso assunto, começa nos afetar, e futuramente seremos profissionais sem uma boa qualificação, devido essa nova plataforma que foi implementada.” completou.
“Podemos utilizar ferramentas tecnológicas com um padrão mínimo de qualidade”, diz especialista em educação
O especialista em educação e presidente da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Alagoas Adufal), Jailton Lira, disse que não acredita esse modelo se perpetue com essa amplidão no período pós-pandemia.
“Estamos todos inclusive desejando a volta à normalidade possível, com prevalência do ensino presencial. O processo pedagógico é mais amplo do que permitem as condições tecnológicas e a internet, envolvendo relações sociais bem mais complexas. Isto posto, acho que podemos sim utilizar essas ferramentas tecnológicas com a manutenção de um padrão mínimo de qualidade, ainda que nesse momento excepcional”, disse.
“Nossa comunidade já está pronta para esta realidade”, diz pró-reitor
A reportagem também conversou com pro-reitor da Pró-reitoria de Graduação (Prograd) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Amauri Barros, que pontuou que, na UFAL, alguns docentes já trabalham na perspectiva do Ensino Híbrido e salientou com segurança, que a comunidade academia está pronta para essa nova metodologia.
“Temos um bom investimento nas Metodologias Ativas e uma parte dos nossos Cursos já incorporaram as atividades de ensino. Considero o Ensino Híbrido uma grande possibilidade para incrementar a prática docente e despertar nos estudantes a Autonomia, disciplina, motivação, com toda certeza nossa comunidade já está pronta para esta realidade”.
*Sob supervisão da editoria