Alguns fatos ocorridos no mundo, durante este período de pandemia, nos fazem refletir bastante sobre o mito da democracia racial brasileira. Será mesmo que o racismo acabou no Brasil? não é o que percebemos em nosso cotidiano, infelizmente o racismo velado é mascarado pelo status que conquistamos de um país liberal e democrático.
Jorge Amado, nosso maior escritor, em sua obra magistral “Tenda dos milagres” narra o desenvolvimento contraditório do racismo brasileiro. Para isso, usa um personagem magistral - Pedro Archanjo que é Ojuobá, os olhos de Xangô, que possui uma inteligência e racionalidade e a usa a serviço de uma causa: a defesa da mestiçagem das raças, como elemento de combate ao racismo e a elevação da cultura negra.
Assim, o preconceito contra os negros atua nos processos de mobilidade social. O racismo, em seu componente histórico, provoca o domínio dos negros nos estratos econômicos inferiores. Não há dúvida que isso proporciona uma terrível desvantagem na partida para ascensão social, pois a cada nova geração a proporção de negros partindo de baixo é maior que a de brancos.
O movimento, para melhorar a participação social dos negros no Brasil, se apresentou de maneira expressiva dentro do espaço político brasileiro. Várias políticas públicas de promoção à igualdade racial foram desenvolvidas. Algumas de forma permanente, outras de forma esporádicas, mas infelizmente identificamos muito poucas iniciativas nos orçamentos públicos da União, Estados e Municípios de programas que tratem estruturalmente esse problema no Brasil. Até porque, nossa sociedade não reconhece o problema. Apenas em momentos esporádicos vemos movimentos e manifestações, mas de efetivo, pouca coisa fica perene ao longo do tempo.
Exemplo disso, são projetos como o “Construindo a Identidade Afrodescendente”, desenvolvido na comunidade remanescente quilombola da Vila Pau D’arco em Arapiraca\Alagoas. A lei n°10.639\2003 prevê o ensino da história e da cultura afro-brasileira, mas ela não tem sido efetiva porque não é desenvolvido programa nacionais estruturados. Neste projeto, a educação foi usada como um espaço de superação do racismo e da discriminação racial no contexto escolar e comunitário, pois além de falar abertamente sobre o racismo entre os alunos, ajudou os alunos negros a conquistarem seu empoderamento, entendendo a importância de seu povo na formação social, política e cultural da sociedade brasileira.
A maioria da sociedade brasileira acredita no mito da democracia racial deste país, assim como Platão nos apresentou o mito da caverna, precisa-se sair desta caverna que nossos antepassados criaram em nosso redor, para poder haver a libertação desses paradigmas angustiantes.
Por isso, precisa-se desenvolver programas nacionais perenes para reverter essa situação no país ao longo do tempo. Assim, devemos caminhar para um resgate intergeracional das desvantagens causadas por não ser branco no Brasil para criar mecanismos públicos efetivos para produção de processos de mobilidade intercalasses sociais.
Entretanto, não vejo nada mais efetivo que educação, educação e educação. Educar as novas gerações a saber lidar com as diferenças com respeito e ética. Somente assim, poderemos ter um país mais produtivo, dinâmico e inserido na comunidade internacional. Precisa-se chegar a uma geração de brasileiros com conhecimento da questão racial mais aprofundada. Somente assim, ser-se-á capaz de atrair pessoas e capitais criando uma dinâmica fundamental para mudanças na sociedade e mudar mais rápido a dinâmica social.
George Santoro