Nas redes sociais os brasileiros trocam informações e dizem o que pensam acerca de tudo o que existe entre céu, mar e terra. O problema é o volume de opiniões baseadas em notícias falsas. Se em tempos corriqueiros o grau de ficção, distorções e falsidades já é uma enormidade, imagine o que não se passa agora sob uma crise de proporções mundiais. Nossa compulsão pela tragédia é irresistível nessas horas. Se a verdade não empolga, vamos agitar a narrativa driblando limites entre vida real e patológica fantasia.

Governado por um bando que faz da mentira uma estratégia permanente na guerra política, o Brasil passou a ocupar lugar especial no mundo quando o tema é a produção de fake news. Não por acaso, Carlos Bolsonaro assumiu as rédeas da comunicação oficial do governo. O Zero Dois é um craque na arte da fraude virtual: nas mãos do filhote, os fatos são torturados sem dó nem piedade.

É claro que a calamidade do coronavírus seria alvo dessa indústria de inverdades disseminadas – vejam que loucura! – pelos canais do próprio governo. Os outros dois filhos do presidente, Flávio e Eduardo, não ficam atrás na distribuição de presepadas como se fossem realidade. Deputados e senadores, do grupo fiel ao capitão, reforçam a tropa que tudo distorce em causa própria.

Assim como os delinquentes do primeiro escalão, vassalos em esferas inferiores se esforçam para seguir o padrão bolsonarista. Por isso, vereadores, prefeitos e deputados estaduais pelo país afora, em obediência ao Planalto, também reforçam a produção de invencionices disparatadas. Mais uma vez, reitero, o que importa é emplacar a versão que atenda aos interesses da milícia que nos governa.

Em Alagoas, a coisa vai no mesmo ritmo. Uma olhada nas redes sociais de autoridades confirma o quadro desolador. As manifestações fingem preocupação com o povo, mas ilustram apenas a degradação da política: o que Bolsonaro diz, mesmo desmoralizado logo depois pelos fatos, vira lei para os doentes que o idolatram. De novo, a única coisa em jogo é impor a versão chapa-branca.

Nesse ambiente propício a ideias absurdas, o anúncio da primeira morte por Covid-19 em Alagoas teria de “quebrar” a internet com um festival de ilações, chutes e “acusações” que desprezam a medicina e a lógica. E daí? O que vale é fazer zoada, lacrar, ainda que a partir de estelionato com os acontecimentos – como de resto é o padrão nesses casos. É o triunfo da pura insensatez.

Reza a lenda que numa guerra a primeira vítima é a verdade. Se estamos no campo de batalha contra uma epidemia, parece que essa tradição se aplica de modo dramaticamente avassalador. Sobre a vítima fatal do vírus em Maceió, infelizmente o episódio ganhou uma dimensão que confirma nossa mórbida tendência de trocar o dado concreto por um enredo de confusão, terrorismo e mistério.

Em entrevista coletiva, o governo garantiu que o teste na vítima confirma o resultado positivo – sem margem de erro. O secretário estadual de Saúde, Alexandre Ayres, foi enfático ao falar sobre o assunto. Ele mostrou a papelada do exame, explicando que não poderia revelar os dados porque isso fere os protocolos do Ministério da Saúde. Negou também falhas no atendimento ao paciente.

Falei de políticos e outras autoridades que surfam na onda de fake news, pelas redes virtuais, com o objetivo de reproduzir as loucuras da milícia Bolsonaro. Mas a encrenca muito maior naturalmente é o fato de o cidadão comum mergulhar nessa maré de falácias. As teorias da conspiração arrastam multidões ao abismo. A depender da situação, será um destino fatal, sem chance de salvação.

Até agora, me parece que governo e prefeitura da capital agiram com a transparência necessária. Não pode ser de outra maneira, ainda mais quando se trata de algo tão grave quanto uma pandemia que assusta o país. Cabe à imprensa profissional a dura e incontornável missão de zelar pela verdade. Apuração rigorosa e responsabilidade sempre! As fake news não podem contaminar as redações.