Um presidente da República tentando se explicar sobre suas relações com milicianos, com assassinos profissionais. Este é Jair Bolsonaro, o elemento que, mais de uma vez, defendeu a atuação de grupos de extermínio no país. Agora, com a morte de Adriano Nóbrega – o marginal que foi homenageado duas vezes por Flávio Bolsonaro, com medalha e tudo o mais na Assembleia do Rio –, o presidente desqualificado, vejam só, posa de defensor dos direitos humanos e das leis! Os seguidores da seita repetem a piada.

No desespero para afastar as evidências de sua ligação com criminosos notórios, o capitão da tortura diz que Adriano nunca teve, repare só, sentença condenatória transitada em julgado! O presidente e seus acólitos esculhambaram os ministros do STF depois que a corte decidiu que ninguém é culpado até esgotados todos os recursos. Descaradamente, mudam de discurso apenas por conveniência.

No auge do cinismo, Bolsonaro agora diz querer saber quem matou Marielle Franco. É um escárnio. As maiores suspeitas passam pela atuação do chamado Escritório do Crime, que era chefiado por Adriano Nóbrega no Rio. O mesmo sujeito que, por longos anos, esteve coladinho à família do “mito”. Flávio, o Zero Um, está aperreado com o tema. Era amigão do miliciano que matava por encomenda.

A essa altura, este é o quadro no governo do Brasil: a máquina oficial se mobiliza muito mais para abafar um caso de homicídio e corrupção do que para cumprir promessas de campanha. No século 21, o país oferece ao mundo um espetáculo medieval, com o topo da República no meio da imundície moral aliada ao desprezo pelos mais pobres. Uma gangue comanda nossos destinos.

Bolsonaro não para de agir como candidato à reeleição. Suas canalhices em geral servem para este fim. Não importa que seja desmoralizado pela realidade, nas redes sociais ele mente com a desenvoltura de um maníaco. Mente sobre a Amazônia, sobre educação, segurança, sobre combate à corrupção; distorce tudo em nome do projeto de poder. É a “nova política” em estado bruto.

A mafiosa família que ocupa o Planalto teme os desdobramentos do caso que envolve milícia, assassinato e “rachadinhas” com o dinheiro público. Esse conjunto de pesadas suspeitas vai perseguir os Bolsonaro durante todo o governo. O chefe deve ficar agoniado porque, mesmo sendo o “dono da caneta”, como gosta de repetir, sabe que não pode extinguir os fatos por decreto. Vive assombrado.

Tudo isso, como já escrevi aqui, não representa surpresa nenhuma. Temos um presidente que é o que sempre foi – um brucutu, um mau militar, adepto à prática de tortura, ligado à escória – tanto na vida pública quanto nas relações privadas. E levou ao governo o padrão sujo de seus “valores”.

Um bandido acossado fica ainda mais perigoso. É assim que Bolsonaro age, como um bandido com medo do que pode lhe acontecer. Por isso, a cada notícia negativa para seu governo, o elemento reage com histeria cada vez maior. Mandar “banana” para jornalistas se encaixa por aí.

Quando o cara não tem argumento, quando os dados da realidade se impõem, o que resta ao meliante? O grito, a ofensa, a ameaça, a bala, a “banana”. Além das adversidades externas, digamos assim, há os inimigos de dentro, como Sergio Moro, o “capanga de milícia”. Tudo sujo e acanalhado.

A democracia corre perigo no Brasil, sim, porque essa gangue pode apelar a qualquer coisa para se manter impune, para garantir a permanência no comando do país. Não fazemos ideia do que está a caminho. Por isso, nada de condescendência, nada de panos quentes quando lidamos com tiranetes.

Fazer o quê? Bem ou mal, restam as instituições. E temos a velha imprensa, a mesma que nos últimos anos enfiou o pé na jaca na demonização de tudo o que representasse uma sombra da esquerda. Hoje, paga o pato sob um governo reacionário, boçal e violento. Agora, é ter coragem, brigar pela verdade e denunciar os abusos que não param de ocorrer. Ou é isto ou vamos engrossar a manada.