Paulo Guedes (foto) passou a vida inteira trabalhando pra garantir fortunas a especuladores do mercado financeiro. O homem sempre foi um funcionário exemplar de bancos e banqueiros. Deu tão certo que virou sócio de uma dessas bancas que explicam a indecente concentração de renda mundo afora. Vejam se isso não é algo esquisito: o que justifica que, mesmo em períodos de recessão mais pesada, os bancos mantenham lucros na estratosfera? Todo mundo perde, menos os barões da ciranda.

O ministro da Economia tem a resposta. É um especialista no assunto. Mas ele nunca dirá a verdade verdadeira sobre esse fenômeno. Seria sabotagem a seu próprio ramo de negócios. Guedes seguirá repetindo a lorota da urgência de “controle dos gastos públicos”. Na mesma linha, defende tudo nas mãos do tal mercado. Os rapazolas “liberais” reclamam do tamanho do “Estado babá”.

(Um parêntesis. Eu adoro essas expressões que a manada repete assim que algum valente lança a novidade. Vale para qualquer área, da política à cultura, da economia ao esporte. Outros exemplos: “O Flamengo está noutro patamar”, “a correria do mundo moderno”, “o cobertor é curto”, “a política é como nuvem, muda a toda hora”, “orçamento público é como o orçamento doméstico”. E vai por aí).

Fechado o parêntesis, volto ao ministro da Economia, o Caco Antibes. Como se sabe, Guedes foi rebatizado após reproduzir o pensamento do personagem de Miguel Falabella no Sai de Baixo, o programa da Globo que marcou época. O guru dos especuladores reclamou do tempo em que empregadas domésticas podiam viajar para a Disney. O ministro Antibes odeia os pobres.

Antes de reclamar dos pobretões que ousam pegar avião, Paulo Guedes também cometeu, sem querer, um gesto de sinceridade cristalina: chamou os servidores públicos de “parasitas”. Por esta visão, a culpa pelos males do país é dos trabalhadores. Combina com Alexandre Garcia, o ex-jornalista para quem se o Brasil trocasse de povo com o Japão, nosso país daria um salto espetacular.

Lá atrás, depois de se formar na Universidade de Chicago, Guedes escolheu atuar no Chile de Pinochet. Ele tinha uma razão específica para essa escolha: uma ditadura sanguinolenta facilitava as coisas para medalhões das finanças. Direitos individuais e coletivos estão “fora do radar”.

Na edição desta sexta-feira 14, a Folha de S. Paulo revela que o rigoroso ministro da Economia recebe, além do salário de 30 mil reais, mais de 8 mil reais para auxílio-moradia e alimentação. Ele também recebeu diárias para viagens ao Rio de Janeiro, onde tem residência e negócios.

As palavras do simpatizante de Pinochet atestam que o deputado Zeca Dirceu tinha razão naquele debate do Congresso. Guedes é “tigrão” com os mais pobres, mas afina a voz diante dos potentados do imoral mercadão especulativo. Para essa turma, o governo atual é o paraíso como nunca houve.

Segundo o “viés ideológico” do bolsonarismo que tomou o país de assalto, tudo vai bem, ainda que o povão esteja no buraco. O que interessa é garantir as taxas de lucro para agências especulativas, bancos e bolsas de valores. Investimento em políticas sociais inclusivas é coisa de vagabundo.

Diante desse quadro, está mais que explicado a desidratação do Bolsa Família. Afinal, Bolsonaro e seguidores são os mesmos que anos atrás acusavam os governos do PT de criarem a “bolsa esmola”. É duro, mas temos de tocar o barco, apesar dessa gentalha que degrada a República e a democracia.