Raramente, tem alguém que diz que não gosta de música, que não ouve música. É por isso, que ela tem sido utilizada para fins terapêuticos, de reabilitação neurológica em certos casos de demência e doença de Parkinson e também na melhoria de limitações cognitivas, motoras e sociais em crianças com dislexia ou autismo.
O neurocirurgião Thiago Fortes explica que a música fala diretamente ao sistema límbico do cérebro (região responsável pelas emoções, pela motivação e pela afetividade), contribuindo para a socialização e até mesmo aumentando a produção de endorfina. Sendo assim, ela serve como modelo bastante interessante para entender como funciona o cérebro. “A gente usa em outros domínios, como memória, atenção, planejamento motor e sincronização que não são exclusivas da música. E aí, acabamos estudando o cérebro sob todas essas funções através de um aspecto”, revelou.
Um estudo desenvolvido pela Cleveland Clinic Foundation, nos EUA, constatou que a música pode aliviar a depressão em portadores de Alzheimer. Entre 60 indivíduos analisados, os casos da síndrome — que aparece em decorrência da dor crônica — que foram tratados com música tiveram diminuição de 25%. Pesquisadores da Universidade de Helsinque, na Finlândia, por sua vez, descobriram que ela pode ajudar na recuperação de pacientes com acidente vascular cerebral (AVC), o popular “derrame”.
Segundo os pesquisadores da Universidade, os pacientes que ouviram músicas logo na primeira semana após o acidente apresentaram melhora tanto da memória verbal quanto da capacidade de concentração e, até mesmo, do humor. “Para pacientes portadores de Alzheimer, o estudo de um instrumento musical colabora para o aumento da capacidade de memória, ao mesmo tempo em que, também, auxilia no aumento do poder de concentração. Por estimular diversas áreas do cérebro em conjunto, o estudo de música também pode, em pacientes vitimados por AVCs, colaborar para a melhoria da coordenação motora e da capacidade de expressão”, destaca o neurocirurgião.
Ele lembra que música também pode ser usada no combate à depressão, ao estresse, à ansiedade, no alívio dos sintomas de doenças como hipertensão e câncer, e no tratamento de pacientes com dores crônicas. No tratamento de pacientes com Parkison, por exemplo, a música pode minimizar os distúrbios causados pela doença que afetam a fala, a voz do paciente e a coordenação motora. “Os exercícios praticados nas intervenções musicais permitem que através da estimulação rítmica se obtenham resultados a nível dos sintomas motores. Os doentes de Parkinson, após treino rítmico, conseguem ter um caminhar mais simétrico, reduzindo o risco de queda e melhorando a sua postura”, pontuou.
Thiago Fortes reforça que aprendizado musical tem o potencial de promover a plasticidade neural, a capacidade que os neurônios têm de formar novas conexões a cada momento. Por isso, até mesmo pessoas que sofreram acidentes com perda de massa encefálica, déficits motores, visuais, de fala e audição, podem se beneficiar deste tratamento com o objetivo de, gradativamente, se recuperarem.