Domingo de plantão na redação significa basicamente uma coisa: polícia. E entre um e outro relatório de ocorrências, uma ida às principais delegacias. Pois foi num desses dias que a prostituta enganada consolou a repórter plantonista.

No colo de uma mulher sentada na recepção havia uma menina de menos de dois anos, com um machucado grande na testa e os joelhos ralados. A jornalista se aproximou, a criança pegou em seu crachá, olhou para ela e sorriu - alheia aos ferimentos e ao ambiente - ao reconhecer que a da foto e àquela à sua frente eram a mesma pessoa: "Tia", falou apontando para uma e para outra.

A menina, por quem a repórter já estava apaixonada, se distraía com o bloquinho e a caneta enquanto a mulher que estava com ela, uma vizinha, relatava o motivo de estarem ali: a mãe tentou matá-la atropelada... Levava ela para o meio da pista, a criança que mal sabia andar voltava e ela tornava a colocá-la entre os carros. Foi salva por vizinhos.

O relato foi interrompido pelo choro da repórter. Passada a surpresa - jornalistas podem chorar no meio do trabalho?? -, a vizinha, até então contida, chorou também.

A essa altura, na cadeira da frente, uma prostituta que - pelo que a jornalista entendeu - estava ali para denunciar o calote de um cliente taxista (de pé ao seu lado, ele aguardava com evidente desconforto), tentava consolar a repórter.

- Mulher, não fique assim... Entregue nas mãos de Deus... - Disse, tocando levemente sua perna.

A cena chamou a atenção dos policiais que chegavam, das pessoas que aguardavam e, no meio do burburinho, o taxista saiu de fininho, a prostituta deixou a queixa pra lá, a vizinha continuou chorando e a menina... Ah, a menina está até hoje nas orações e no coração da "tia".

 

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