O texto abaixo é do jornalista Fernando Coelho.
Cada um com sua fé. É justo. Portanto, respeito com a fé alheia. E respeito com quem diz não ter fé. Como respeito nunca foi sinônimo de silêncio, vamos falar de religião, sim!
As religiões existem porque não aceitamos que a vida tem fim. O credo no sobrenatural nasce da tragédia da finitude e do temor da solidão – ambas inerentes à racionalidade. Veja que contradição. “É preciso ter fé”.
Mas, além de uma nova chance, o sacerdócio conquista o fiel porque também oferece rito (identidade cultural) e liturgia (controle social). É assim desde que o “ser” se entendeu como “humano”.
Outra marca ancestral: toda religião esconde (ou revela) traços obscurantistas. Todas. Do terreiro à sacristia. Investigue minimamente qualquer crença e observe aspectos suspeitos em comum: narrativas permeadas por fantasias, mitologias, superstições, esoterismo e, em casos mais graves, dogmas e charlatanismo.
O debate sobre qualquer religião não é pecado, perseguição ou mimimi. Principalmente em tempos de uma representação parlamentar informalmente institucionalizada com a alcunha de “bancada evangélica”. Turma da pesada, com poder para interferir em decisões políticas que afetam, drástica e dramaticamente, a vida real de milhões de pessoas.
Destrinchar o tema se torna um dever cívico (apesar do Estado laico) quando há integrantes de uma assembleia eleita democraticamente para atuar por princípios republicanos que legisla exclusivamente em causa própria – e pelos interesses de seus associados.
Vamos falar de religião porque uma pauta de costumes retrógrada, preconceituosa e falsamente moralista se tornou campo de batalha para boa parte de fiéis ativistas. Gente que transformou a súplica do perdão em templos e catedrais pelo front beligerante da guerra ideológica.
Por tudo isso, vamos falar de religião, sim! Vamos falar de religião porque nada é tão sagrado a ponto de ser indiscutível.