O deputado estadual Davi Davino – em texto assinado por sua assessoria de imprensa – se manifestou sobre a possibilidade de disputar o cargo de prefeito de Maceió. É importante frisar que Davi Davino é sim pré-candidato e trabalha para isso dentro de sua legenda, com algumas de suas bases eleitorais e angariando apoios entre alguns deputados estaduais.
Se isso vai se concretizar ou não, é outra história.
Agora, por meio da assessoria, adota a estratégia política do arrefecimento dos ânimos, colocando no xadrez o óbvio: ninguém é candidato de si mesmo.
Davino – cujo nome já aparece nas pesquisas (e isso não é por acaso) – é posto no release como “sendo um dos mais cotados para as eleições”. Ora, em um texto “oficial” isso já é a promoção de seu próprio nome no pleito. É legítimo da parte dele, assim como é legítimo que se leia as linhas e entrelinhas.
Davi Davino não se posiciona como candidato para se posicionar como candidato. Entenderam? Pois é. E nem precisa desenhar. São os políticos e suas estratégias… Porém, isso mostra que Davi Davino está muito bem assessorado, pois foi avisado de dois fatores: 1) os pecados da vanglória e 2) a necessidade das sandálias da humildade.
As falas de Davi Davino são cirúrgicas, pois incutem no leitor a sua presença nas pesquisas como um nome com condições de disputa e ao mesmo tempo tenta mostrar um desapego a essa história de xadrez político antecipado. Claro, o desapego aí é inexistente do ponto de vista real, mas funciona nos holofotes. Davino quer ser candidato, trabalha para isso, busca construir grupo e visibilidade, ora bolas.
Todavia, fiquei impressionado com a qualidade de sua assessoria, pois no texto até consegue destacar a preocupação do deputado com a situação das praias que foram invadidas pelas manchas de óleo. Uma preocupação real, claro. Todos os alagoanos que entendem a dimensão do problema sofrem dessa preocupação que engloba a questão ambiental e econômica. Davino tem de fato participado dessas discussões.
Ao falar de eleição, no entanto, diz ele:
“Eu acho que a Prefeitura de Maceió será discutida no próximo ano. Tenho uma gratidão muito grande pelo povo. Isso só aumenta a nossa vontade de trabalhar, a nossa responsabilidade. Eu acho que essa discussão de Prefeitura de Maceió tem que ser feita no próximo ano e a gente focar agora no nosso mandato de estadual”.
Balela! Todos os envolvidos já discutem o assunto a partir de agora, pois faz parte da vida partidária e quem silenciar vai ver o trem passar pela estação sem entrar nos vagões. O xadrez político é antecipado. É uma realidade. Davi Davino, obviamente, discute o assunto com o PP e com os possíveis apoios. Desafio alguém dizer que estou mentindo.
Ao falar da pesquisa – por vias oficiais – sem querer falar da pesquisa, Davi Davino usa de um recurso erístico que já foi explicitado e explicado pelo filósofo Arthur Schopenhauer: introduzir um assunto importante para o interlocutor de forma precisa sem que esse demonstre o quanto está querendo deixar o tema em evidência.
Não estou dizendo que o deputado sabia quem é ou leia Schopenhauer. Mas isso já é tão presente na política que se perde daquele que estudou os recursos da retórica em A Arte de Vencer o Debate Sem Precisar Ter Razão (há outras traduções para o título).
Afirmo com todas as letras: Davi Davino está sim de olho no cenário e trabalha sim para que nele esteja encaixado. O resto é o discurso que tem que ser dado aos holofotes mesmo. É da política. Tal discurso é importante, pois em sua essência também se encontra a saída honrosa caso não seja candidato. O que não se pode negar é: Davino está muito bem assessorado.