A estratégia de defesa dos delegados acusados de tortura contra Darcinéia Almeida é classificá-la como louca. É o que as autoridades deixaram claro na entrevista coletiva em que negaram a versão apresentada pela dona de casa, mãe de um garoto de 7 anos assassinado em Maceió. Fábio Costa, um dos delegados, chegou a dizer o seguinte: “Não temos um laudo psiquiátrico, mas vocês terão a nítida impressão de que ela sofre de algum problema. Inclusive ela faz uso de medicação, e fez isso na nossa frente”.
Não conheço a trajetória acadêmica de Fábio Costa. Suponho que ele não tenha formação em medicina. Mas, mesmo assim, o doutor não vê nada de errado em especular sobre a saúde mental de uma mulher que acaba de perder um filho. “Não temos um laudo”, ele admite. Então por que chutar informação sobre algo tão delicado? É um caso clássico de tentativa de desqualificar a denúncia.
Segundo o relato de Darcinéia, Fábio Costa foi um dos delegados que comandaram a sessão de tortura psicológica contra ela. O objetivo seria fazer a depoente e seu companheiro confessarem participação na morte do menino. Ainda segundo suas palavras, os rapazes da Polícia Civil estavam com um fio e diziam que ela receberia choques elétricos. O relato foi feito à Defensoria Pública.
Em texto anterior critiquei a postura omissa da OAB alagoana e do Ministério Público. Nesta terça-feira, leio em nossa imprensa que as duas entidades fizeram algum movimento na direção certa. A Ordem anunciou que, após visita à mãe do garoto, conseguiu assistência médica para ela. Além disso, a presidência da OAB garante que acompanhará o caso com a devida atenção. Ainda bem.
Já o MP abriu procedimento investigativo sobre o ocorrido. O promotor Magno Alexandre Moura informa que vai solicitar laudo psiquiátrico para um perfil psicológico da dona de casa. Tudo bem, é normal, necessário; mas um parecer nesse sentido está longe de esclarecer a situação.
Digo isso porque, do jeito que os doutores falam, um laudo positivo quanto a problemas psiquiátricos seria o suficiente para inocentar os delegados. De jeito maneira! O que precisa ser esclarecido é o que se passou nas instalações de uma delegacia, durante um “depoimento”, em plena madrugada!
Do lado do governo, a Corregedoria da Polícia Civil também informa a abertura de “investigação preliminar” sobre o caso. Diz o corregedor, Valdecks Pereira da Silva, que a apuração pode demorar até 60 dias. Sejamos realistas: daí não se pode esperar nada além do corporativismo. É tradição.
Esse não é um episódio qualquer. O Brasil tem um presidente que idolatra tortura e torturadores. O triunfo eleitoral dessa porcaria chamada Bolsonaro tirou do armário uma horda de “cidadãos de bem” que pensa como ele. Num ambiente assim, se o chefe incentiva o crime, os fanáticos detonam.
A tortura como “método de investigação” se consolidou no país e ganhou proporções indecentes com a ditadura militar. A pesada herança até hoje segue fazendo estragos. Desgraçadamente, as polícias ainda abrigam saudosistas dessa época de terror. O crime hediondo continua em alta.