Uma versão de Ras Adauto, lá da Alemanha.

Um dia ObaluayÊ estava fazendo uma grande viagem e atravessou muitas terras, mas nao parava em nenhuma. Depois de um longe percurso resolveu que na próxima Vila que encontrasse iria parar para descansar um pouco. Logo depois avistou ao longe sinais de uma cidadezinha. E foi em direcao à ela.
No meio do caminho foi encontrando pessoas fugindo assustadas da cidade. Perguntou então a um camponês que passava apressado puxando seu animal com todas as suas tralhas em cima.
- "Uma grande peste está arrasando a nossa aldeia. Quem conseguiu sair, saiu. Muitos estão doentes e gente morrendo no meio da rua." - respondeu o assustado camponês e sumiu lá longe,  com o seu animal e suas tralhas.
Obaluayê resolveu entrar na cidade. E viu a tragédia que lá acontecia.
Bateu em uma das portas. Ninguém abriu. Bateu em outras e outras. E quando estava desistindo, uma porta se abriu e o rosto assustado de uma crianca apareceu:
- "Quem é?"
- Sou eu, Obaluayê. Estou precisando de um lugar para descansar um pouco, antes de seguir viagem. Seus pais estao aí?"
- Sim! Mas meu pai está doente na cama. Só minha mãe e eu estamos aqui assim..."
Uma mulher, ainda mais assustada, apareceu no umbral da porta e viu Obaluayê.
- O senhor também está de pé? Nao aconteceu nada ainda com o senhor? - perguntando uma gaguejante pessoa.
- Claro que estou de pé! Cheguei agora na Vila e vejo que está acontecendo uma coisa muito grave por aqui!
E a mulher contou rapidamente a Obaluayê a chegada da peste tomando a cidade e as pessoas indo desfalecendo e muitas morrendo e muitos de seus parentes fugindo. Eles ficaram ali, pois o marido caiu doente e estava quase a morte no quarto.
Obaluayê falou para a mulher que ele era médico e pediu para entrar na casa e ver o doente.
A mulher  hesitou, pois Obaluayê  estava todo coberto de palhas e nem o seu rosto aparecia. A mulher perguntou:
- Porque voce está todo assim coberto de mariwó?
- É meu destino, senhora! Deixe-me entrar e ver o doente.
A mulher abriu caminho e Obaluayê  entrou na casa e acariciou a cabeca (ori) do menino e se encaminhou diretamente para o quarto como se conhecia a casa.
O homem, pálido e moribundo, estava no leito, um semi-defunto. Obaluayê olhou e olhou. E voltou à sala para falar com a mulher.
- Preciso de um lugar para fazer uns preparados. Já sei o que é!
A mulher apontou a cozinha. E Obaluayê se concentrou para fazer o preparado da cura.
Distraido estava e não viu, quando o menino entrou e sorrateiramente levantou a cobertura de mariwó de Obaluayê. E olhou lá dentro, até encontrar os olhos supresos de Obaluayé.
Um segundo tenso se fez. Obaluayê, entao, pegou o menino nos colo e disse:
- "Voce é muito curioso. Mas nao vai acontecer nada com voce nao.
Como se sabe, ninguém pode olhar por debaixo da cobertura de mariwó de Obaluayê. Pois é morte na certa. Obaluayê nasceu deformado e horrível, por isso se esconde debaixo da mariwó.
Obaluayê terminou os seus preparados, deu primeiro para o menino, depois para a mae do menino e foi até o quarto medicar o doente.
Deitou num canto e descasou por um bom tempo.
Quando acordou para seguir viagem, encontrou toda a família reunida na sala. Sorriram quando viram Obaluayê. A mulher deitou no chao e saudou Obaluayé aos seus pés. O homem abracou o médico e o menino ficou olhando de longe.
Obaluayé foi até à crianca, estendeu um saco e disse:
- Aqui está a medicina que vai curar todos aqui nessa Aldeia. Voce vai com os seus pais de casa em casa curando os que estao doentes, mas dando o preparado também para todos que encontrarem pelo caminho.
O menino pegou o saco da cura, enquanto Obaluayê colocava a mao no centro de sua cabeca (ori).
Obaluayê pegou as suas tralhas e seu cajado e lá se foi pelo mundo em sua longa viagem prometida.
E esse menino foi a única pessoa até hoje que olhou debaixo da mariwó de Obaluayê e nao aconteceu nada com ela. E dizem que ela foi o primeiro médico daquela Aldeia.
ATOTO! OBALUAIYÊ ADUPÉ!"