Maira Pinheiro é advogada criminal mora em São Paulo e escreve:
"A história da moça estuprada por um profissional de saúde na UTI em Goiás é zero surpreendente. Advogo para três vítimas de situações parecidas em um hospital grande e famoso em São Paulo. Esse tipo de violência é extremamente comum e acontece com a conivência das instituições de saúde, que estão mais preocupadas em preservar a própria reputação e se esquivar de eventuais indenizações do que em garantir a segurança das mulheres. Pro hospital onde isso acontece é muito mais negócio que a apuração desse tipo de situação não dê em nada. O corporativismo das categorias de profissionais de saúde também atrapalha que os conselhos profissionais reconheçam que a violência sexual perpetrada por profissionais de saúde é um problema que requer medidas específicas de prevenção e responsabilização. A relação entre paciente/usuário e profissional de saúde é essencialmente desigual e hierarquizada, e o ambiente hospitalar, como instituição total, retira do paciente diversos aspectos de sua autonomia, o que reduz sua capacidade de resistência. Tudo nesse contexto contribui pra facilitar que situações de abuso sexual aconteçam, mas as instituições ainda estão em negação quanto à cultura do estupro e por isso não temos políticas específicas pra prevenir esse tipo de situação, protocolos que preservem a vítima e racionalizem a produção de provas imediatamente após a constatação do abuso. É bizarro gente, mas é zero surpreendente."