É terça-feira dia de atividade do Instituto Raízes de Áfricas, no presídio feminino Santa Luzia, em Maceió,AL.
As reeducandas estão sentadas ao chão participando das conversas em grupo, na Conferência Livre de Saúde sob o tema:"Democracia-Saúde &Ubuntu-Movimentando ideias pelo Respeito à Saúde na Prisão".
Ao passar por um dos grupos a menina me chama, com uma alegria incontida. Vou até ela, mas não reconheço a feição e ela se apresenta :- Sou fulana. Eu estava na Unidade de Internação Feminina,quando a senhora fazia encontros lá, lembra?
Sim, lembrei dela e me bateu uma tristeza do tamanho do mundo.
-Ô, mulher por que você está aqui?- fiz a pergunta à menina de 19 anos, presa no Santa Luzia.
- Foi um bocado de coisas, professora e desviou-se do assunto.
Perguntei-lhe da idade. 19 anos afirmou ela e continua: passei 1 ano e 6 meses na rua, em liberdade, depois que saí da UIF , caí aqui. Me conta isso como se fosse um fato simples da vida comum.
É ainda uma menina.
Uma menina preta,muito linda, moradora de territórios precarizados pela pobreza, mas com uma mãe que abarca o mundo para salvar sua princesa das drogas,mas, o "mundão" é perverso.
Antes de me direcionar na orientação de outro grupo,acarinho-lhe o rosto e peço que tome juízo, a mas, a imagem da menina grudou em minhas emoções.
Ter encontrado essa moça,aos 19 anos, entre as 4 paredes de um presídio, me tirou do eixo e consolidou a certeza de que estamos abandonado nossos jovens à própria sorte.
À própria sorte!