A Província Eclesiástica Alagoas e a Rede Cristã De Acolhimento e Recuperação do Dependente Químico divulgaram, na tarde desta quinta-feira (9), notas de repúdio ao Projeto de Lei, de autoria do deputado Bruno Toledo (PROS), regulamentando a venda e consumo de bebidas alcóolicas nos eventos desportivos no Estado. A matéria já foi aprovada ontem, em primeira discussão, na Assembleia Legislativa.

Na primeira nota, assinada pelo Arcebispo de Maceió, Dom Antônio Muniz Fernandes; pelo Bispo de Penedo, Dom Valério Breda; pelo Bispo de Palmeira dos Índios, Dom Manoel Oliveira Soares Filho; e pelo Bispo Emérito de Palmares (PE), Dom Genival Saraiva de França, os religiosos argumentam que o repúdio se dá em razão “dos diversos males que são causados pelo uso e abuso de álcool”, que provoca doenças graves e interfere no senso de discernimento do consumidor, levando muitas vezes a casos de violência.

“Rogamos para que os excelentíssimos deputados se sensibilizem para essa grave questão que envolve não somente a violência nos estádios, mas a saúde pública de forma geral e diversos outros fatores, votando de acordo com o interesse social que clama por representantes do povo que promovam o bem estar e a paz”, destaca a nota.

Nos mesmos moldes, o posicionamento da Rede Cristã apresenta números do “consumo alarmante” de álcool no Brasil para se colocar contrária ao projeto e pontua que “os avanços que se conseguiram até hoje com relação ao uso e abuso de álcool sempre foram relacionados à restrição, e não a liberação de bebidas alcóolicas. Citamos, como exemplo, a considerável diminuição dos índices de acidentes de carro após a implantação da Lei Seca”.

A Rede Cristã aponta ainda que a atual Política Nacional de prevenção e combate às drogas (ainda que lícitas) é restritiva e não liberal.

O mero argumento econômico não pode sobrepor o interesse social que envolve uma questão maior, de saúde pública. Com a justificativa que a venda gerará renda, o Projeto de Lei esquece que o Estado gasta quantias exorbitantes para tratar males relacionados ao alcoolismo”, prossegue a nota, citando vários dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para ilustrar os números negativos relacionados ao alcoolismo no Brasil.

“Consideramos que, se aprovada, a Lei que permite a venda de bebidas alcóolicas em eventos desportivos representará um retrocesso, pois é comprovado que o álcool diminui a capacidade de juízo crítico de todo ser humano, que é afetado biologicamente pelo uso. Desta forma, as multidões de torcedores vão estimular menores condições de crítica, podendo fazer coisas que não fariam caso estivessem em seu estado normal, gerando violência e o afastamento do público em geral”.

A Rede Cristã também solicitou à Casa de Tavares Bastos que, antes de votar o projeto, solicite aos Conselhos Estadual e Municipal de Políticas Sobre Drogas pareceres sobre o tema. A nota é assinada pelo cônego Walfran Fonseca dos Santos, pelo padre Francisco Lindonjonson de Almeida e por Ronnie Reyner Teixeira Mota, representantes da Federação Recriar.

Estranhamento

Em entrevista ao CadaMinuto, o deputado Bruno Toledo disse estranhar a posição da Igreja “contrária às liberdades individuais”. “Acredito que se beber moderadamente fosse pecado, Nosso Senhor Jesus Cristo não teria transformado a água em vinho, mas em suco. Além disso, há monges católicos que fabricam cervejas e a consomem de forma moderada dentro do contexto da celebração. Claro que o excesso de tudo é um mal. E se combate excessos com educação e não com o estado sendo tutor do indivíduo”, analisou.

O parlamentar aproveitou para alfinetar os representantes da Igreja: “Eu gostaria de ver a mesma ânsia do bispo, já que sou católico, no combate aos esquerdistas da CNBB que infiltram a Igreja com ideologias que os documentos dela mesmo condena. Se a preocupação do bispo é com a cerveja, ele pode ficar tranquilo, pois era apreciada por Bento XVI. É só procurar no Google para achar Bento XVI com sua cervejinha. Não creio que o antecessor de Francisco seja um pecador”.

Por fim, Toledo reforçou que não está fazendo apologia ao uso imoderado do álcool, mas permitindo que as pessoas tenham acesso ao consumo de algo que é legal, sem lhes tirar a responsabilidade de seus atos: “Quem faz uso errado das coisas deve ser punido. Agora, me estranha o bispo. Pois, ele mais do que ninguém é sabedor da minha luta em favor do tratamento de dependentes químicos e contra as drogas. Qual parlamentar que esteve ao lado dele para combater as irregularidades que a Seprev cometia no uso dessa rede de acolhimento? Era eu!”, concluiu.