A militante preta, paulista Luh Souza escreve sobre as mortes cotidianas e naturalizadas de pret@s.
A família é negra, toda ela. Não são uns brancos encardidinhos, não. São Retintos! Por fim, não importa que dos nossos se tornem trabalhadores, criminosos, drogaditos, mendigos, estudantes, donas de casa, mães de família, crianças de rua e de casa ou uma família de bem e bons costumes. O estado vê cor. Enxergam até no escuro. E atiram. Atiram pra matar. Quando não matam, foi um erro.
Nas ruas indo a um passeio familiar, dentro das cadeias, nas casas de correção , meninos brincando de pega-pega na rua, a mãe indo comprar pão, um pai com guarda chuvas indo buscar o filho na escola, um trabalhador com porte de furadeira, um pai com um carrinho de bebê, um evangélico com a bíblia embaixo do braço, jovens num carro indo comemorar o primeiro emprego do amigo, uma menina dentro da escola, um bebê no berço, uma mãe lavando a louça, um garotinho indo para a escola, um menino indo comprar doce, outro esperando a mãe chegar do trabalho sentadinho no portão, um negro instalando uma antena de tv, um garoto soldando pipa na laje, crianças órfãs dormindo na rua, um negro cantando ao microfone para alegrar sua comunidade, jovens negros rindo vindo de uma festa de aniversário... Mortos. Uma delas ainda foi socorrida arrastada na rua e outro nem teve corpo pra família velar. Estão todos mortos!
Poderia passar 131 anos listando todos os casos ocorridos em que cidadãos, a polícia ou as forças armadas se enganaram, se confundiram, "pensaram que". Envolvidos estão os políticos, militares de toda a monta, indústrias de armamentos e a educação que recebem nas alcovas fétidas de sua formação. Desconfio até, que a alta tecnologia já fabricam as balas com sensor de corpos negros nas pontas.
Esperar justiça divina ? Que esses assassinos fardados e eleitos paguem no final da vida com uma doença bem dolorida e incapacitante? Não. Desejamos que os brancos que se dizem não racistas, tivessem coração para sentir, inteligência para perceber e capacidade para observar o quão privilegiados foram após a Escravidão e a Ditadura.
É que somos mesmo um povo pacífico; não fizemos a escravidão, não nos vingamos de nada - e nunca quisemos - então nosso povo vai sobrevivendo como pode. Alguns adoecem e tocam o terror, outros/as se suicidam, outros/as se tornam ativistas e falam, escrevem, cantam, outras engolem sapos até o final da vida pouca, já que morrerão de toda forma num desses hospitais em que médicos brancos sentem é nojo de tocar em pele negra. Muitos desejam tanto não serem confundidos com coisa menor que se tornam prostitutos ideológicos como certos políticos negros que surgiram no cenário nacional, se denegrindo, negando, negligenciando, negativando, negociando suas almas .
De todo jeito o Estado te mata. Quando mata seu corpo, mata a sua família, mata a etnia, amargura todos os negros que vivem no mundo. Se não mata seu corpo, matará seu espírito, sua essência, seu ser, sua alma, sua existência.
Enfim, somos um povo pacífico. Pacíficos somos desde o surgimento dos seres humanos na terra, senão...
Se querem nos dizimar, comecem fazendo isso direito. Esse serviço mal feito, serviço de porco mesmo, só mostra o quanto são incompetentes ou então seus negócios é mesmo a arte do sadismo, do fetiche macabro que os fazem sentir múltiplos orgasmos ao presenciarem nossa dor!
Ah, se fôssemos um povo vingativo... Ah, se fôssemos como tu!