Começo de tarde da sexta-feira, 8 de março. Sentei em uma banquinho ao lado dela, no centro de Maceió, em Alagoas. Esperávamos o transporte alternativo, catalogado como ilegal ,pelo prefeito de Maceió, AL,Rui Palmeira,(legaliza,Rui!), mas, que liberta  uma parcela da população de ser transportada em ônibus  desconfortáveis.  ladrão de juízos.
Aprendiz de escutas alheias,  lanço a pergunta:- Cansada por que mulher?
E  ela, desenrolando o novelo de palavras , me conta que é técnica de enfermagem e vem de um jornada de 36 horas, cuidando de um paciente com alzheimer. Quase sem dormir.
O rosto abatido e os olhos envoltos de canseira falam  de noites insones.
Sentindo-se acolhida  vai relatando da missão  do cuidado domiciliar , com o idoso.
Conta de gentes, caminhos, compromissos e amor a profissão.
Conta dos cinco anos que esteve ausente para cuidar da mãe, hoje com 73 anos.
Conta de sonhos e passos, mesmo respirando o cansaço do trabalho ,que as vezes põe seu coração em polvorosa.
Conta tanta coisa que quando perguntei sobre o 8 de março, Kelly afirma que um dia é pouco para viver  todas as lutas do 8 de março que ela vive, o tempo todo. Mesmo que a luta seja anônima.
O nome dela é Kelly,mulher preta,  técnica de enfermagem.E ela estava muito cansada.