Cena 1- O local é um salão de beleza, extremamente requintado, no bairro dito nobre, em Maceió, AL. A moça preta, "que se arrumou direitinho", para não causar má impressão, segundo a mãe, abre a porta do salão e entra. 

Cena 2- Ao abrir a porta do salão de luxo, a moça se depara com 5 pares de olhos perscrutadores, céticos e curiosos.Olhos que a analisam, criteriosamente, da cabeça aos pés e questionam: Como ousa entrar aqui? 

Durante segundos nenhum som é emitido, mas todo texto social, secularmente escrito, está estampado nos olhos que, seletivamente, expulsam a moça do espaço: "Você não é adequada para esse lugar."

Cena 3- Tomando atitude, a moça dirige-se, valentemente, à recepção, sem não antes cumprimentar, educadamente, as pessoas que a olham.

Nos olhos da recepcionista há incredulidade em relação a admissão da moça preta ali ,no seu sacrossanto e branco local de trabalho. Depois de procurar o nome na agenda, diz, quase com um suspiro de alivio: Não é aqui, não.

A moça preta perplexa diz:- Como assim? O número confere. Você sabe onde é?

A recepcionista, de muito má vontade, responde: Deve ser mais lá na frente, e , indiferente, se volta para seus afazeres.

Cena 4- A moça sai com a boca do estômago fervendo indignação.Como materializar a sutileza do olhar do racismo, que tem códigos próprios,estruturalmente corrosivos?

Um olhar seletivamente social que consegue perpetrar destruições maiores na alma de tant@s e muit@s de nós. A seletividade desses olhares sociais faz a gente entender que ser pret@ no Brasil é descobrir, todo dia, que o racismo é um gigante camaleão poliglota.