Dizer que a eleição para presidente do Senado Federal é um episódio lamentável para aquela Casa, dentre tantos outros que envergonham quem tem o mínimo de bom-senso nesse país, é chover no molhado. Claro que é!
Foram inúmeros os fatos graves ali, incluindo alguém ter votado duas vezes e o presidente da sessão - o senador José Maranhão (MDB) - ter rasgado prova do crime.
Sendo assim, é provável que tais fatos tenham sequelas. Ainda mais porque a eleição produziu como derrotado o senador Renan Calheiros (MDB), que - gostem ou não dele - é um grande articualdor político em Brasília.
Dito isso, eis que surge também o "lenga-lenga" sobre o voto secreto não ter sido respeitado e, em alguns casos, a "condenação" da "pressão popular", que fez alguns senadores abrirem o voto e pressionarem os demais colegas a não votarem em Renan Calheiros. Oh, que crime: "pressão política!". Santa Paciência!
Sim, e qual o problema da pressão popular? Acaso não sempre existiu diante de processos políticos polêmicos?
Vai reclamar também de que o povo foi às ruas pedir o impeachment de Fernando Collor de Mello, quando este era presidente? É que ali não foi "gópi", né? Ou seja: quem reclama da pressão popular sobre o Congresso Nacional, que se deu apenas por manifestações em redes sociais, parece nunca ter dado um "piu" quando houve manifestações populares para defender causas com as quais concorda.
O problema não é a pressão. Mas, o pressionado. Entendi...
Quer pressão maior que a exercida o impeachment de Dilma Rousseff (PT)? De lado a lado, de parte a parte, com grupos contrários aqui e acolá. Havia alguma ilegitimidade em defender abertamente o que se acreditava naquele momento, seja favorável ou contrário ao impeachment? Ter razão ou não sobre o que se defende, aí já é outra história.
Nesses momentos, a depender do grupo que interesse ao iluminado, era o "povo reagindo". Do outro lado, os "bárbaros". Há sempre aquele "iluminado" que acha que o povo é sábio quando pensa igual a ele, mas burro quando discorda. Afinal, a medida de todas as coisas são as suas causas ideológicas ou os políticos de estimação.
De minha parte, digo: desde que de forma ordeira e dentro do que a legislação permite, as pessoas possuem o direito de se manifestarem e exercerem pressão sobre políticos. Se terão resultado ou não, aí é outra história...
Cabe ao senador (deputado federal estadual e por aí vai) não ser como uma geléia frouxa ao sabor das circunstâncias, mas possuir caráter e uma linha de convicções definidas para manter o mínimo de coerência ao dar satisfação ao eleitor.
A verdade - meus caros - independe de sua quantidade de adeptos. É verdade por si. Por isso, há momentos em que uma maioria estará errada sim. Mas, o fato, é que a livre manifestação de pensamento como forma de pressionar políticos - independente do conteúdo - é algo legítimo. As redes sociais só ampliaram isso.
É da democracia. E democracia é processo e não produto. O mérito sobre o que as vozes dizem é outra discussão.
Além disso, o voto secreto é um direito - conforme o Regimento do Senado - e não um dever. Logo, o senador, inviolável por suas opiniões, pode muito bem externar em quem votou. Pressões - também nesse sentido - fazem parte do jogo político. Ou os santos acham que ninguém foi pressionado também para manter o voto em sigilo? Sabe-se lá com o que foi pressionado, nesse caso...
Se um senador, repito, não possui convicções sólidas para embasar suas posições e por tudo vai ficar igual biruta em aeroporto para saber a direção do vento, ele é que é um idiota que não se encontra a altura para o cargo. Pode ser expurgado pelos tribunais do voto ao fim do mandato.
Além do mais, em essência, o que as pessoas cobram é que os parlamentares tenham a obrigação de serem transparentes para com seus eleitores. Afinal, quem paga a conta? Quem é funcionário de quem?
Menos mimimi e mais transparência no Senado. É isso e ponto final!
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