O Brasil tem uma das polícias que mais matam no mundo. O pacotinho de medidas para combater a violência, apresentado pelo ministro Sergio Moro, traz uma proposta perfeita para elevar esse índice. A grande ideia do ex-juiz, que entrou para o governo Bolsonaro após agir como cabo eleitoral na reta final da campanha, é livrar a cara de policiais que vierem a matar em supostos “confrontos”.
As maiores vítimas das forças policiais nos “tiroteios” nas periferias brasileiras são pobres e negros. São dados oficiais que revelam a seletividade do “combate ao crime”. Caso a intenção do herói de Curitiba seja aprovada pelo Congresso Nacional, o que já é algo corriqueiro estará devidamente legalizado. Se isso é tudo o que Moro tem a oferecer, a bandidagem até agradece.
É certo que a visão do ministro sobre ações violentas das polícias combina com o pensamento de governadores e secretários de Segurança por todo o país. Combina também com a cabecinha de otoridades do Judiciário e do Ministério Público. Aqui mesmo em Alagoas a regra é essa: invadir áreas tomadas pela pobreza e mandar bala nos “vagabundos”. A estratégia rende até votos.
Para enfrentar a corrupção no meio da política, Moro também propõe a chamada criminalização do caixa dois. O engraçado é que o ministro da Justiça já defendeu enfaticamente o ministro Onyx Lorenzoni, da Casa Civil, useiro confesso dessa modalidade de financiamento de campanha. No caso de Onyx, como ele pediu sinceras desculpas, Moro declarou que o malfeito está superado.
O presidente da República é simpático a grupos de extermínio. Foi o que ele mesmo declarou, mais de uma vez, ao longo de sua medíocre trajetória na política. Os filhos de Bolsonaro são amigões de milicianos cariocas. Sergio Moro é parte da turma de um governante que já manifestou respeito a torturadores. Nada mais natural, portanto, que os projetos do ministro mirem justamente os pobres.
No pacotinho que será analisado na Câmara e no Senado, Moro incluiu medidas já rejeitadas pelo Congresso. Ele tenta agora dobrar o parlamento com ideias que, por um lado, agridem a presunção de inocência, e, na outra ponta, incentivam matança legalizada. Se não der certo, o ministro jogará a culpa nos parlamentares que votarem contra suas intenções. O que ele faz é política, desde a toga.
A segurança pública é responsabilidade dos estados, segundo nossa Constituição. A encrenca, como disse, é que os gestores estaduais só conhecem o caminho da truculência. “Bandido bom é bandido morto”, berram esses populistas de quinta categoria, para justificar a política de extermínio que incentivam nas cidades. Se depender de Moro, vamos continuar por aí, detonando na periferia.