O jornalista alagoano, Márcio Anastácio, que exerceu o cargo de assessor de imprensa do deputado federal, jornalista, professor universitário Jean Wyllys de Matos Santos, escreve:

 

"Quando as ameaças se intensificaram e a segurança armada começou a fazer a escolta do Jean, nossa vida também mudou. Os assessores precisaram cumprir um protocolo de segurança e por muitas vezes, tínhamos que cancelar agendas em algumas ocasiões, por questões de segurança.

Dois carros blindados e três seguranças acompanhavam o deputado. Se ele quisesse ir à padaria comprar um pão, não poderia ir sozinho. Não podia ir à praia, na casa de amigos nem andar nas ruas.

Certa vez, Jean se atreveu a sair de casa a pé para ir até a orla de Copacabana acompanhar um ato por liberdade religiosa. Resultado: foi agredido e insultado durante três quadras no percurso até o destino final. Em cada esquina, se ouvia uma barbaridade diferente.

No Parlamento a situação também não era diferente. Eu tinha a tarefa de ser assessor de imprensa e atender, da melhor forma possível, os colegas jornalistas que buscavam diariamente informações sobre a atuação parlamentar de Jean e notícias sobre seus posicionamentos políticos.

Outros assessores sempre o acompanhavam nos corredores da Câmara até o plenário e relatavam que era comum, outros deputados o xingarem de “queima-rosca”, “viadinho”, “bicha louca” e uma lista de insultos, em sua maioria, homofóbicos.

Segundo colegas de gabinete, Jean deixou de usar o banheiro compartilhado entre os deputados para evitar aborrecimentos. Era só ele entrar que começavam as piadas entre os “machões”. As mesmas que eu e ele ouvimos na quinta série no colégio. O mesmo bulling homofóbico. Os babacas não amadureceram, só viraram deputados.

Entrar naquele carro gigante e blindado para cumprir agenda com Jean, era como viver na mira do tiro. 
Ele estava na mira, nós sempre soubemos.

Nós, ao lado de Jean, era a descrição da similar situação do motorista Anderson Gomes e da assessora de imprensa, Viviane, que andavam ao lado da vereadora Marielle Franco.

Depois que Marielle e Anderson foram executados no Rio, as ameaças contra Jean se intensificaram. A decisão dele tem significado: ele não quer o mesmo fim.

Lembro que chegaram a colar um adesivo na porta do gabinete em Brasília com os dizeres: “Bolsonaro vive”...

Sete dias após a execução de Marielle, durante uma homenagem na Cinelândia, soubemos que nossas redes receberam notificações com ameaças e indicação sobre os locais exato por onde passávamos.

Jean fez certo.

Respeitamos a decisão. Ele precisa se fortalecer e cuidar de sua vida. Viver na mira do tiro é uma maldição que eu não desejaria para ninguém. Em 8 anos de atuação parlamentar, ele melhorou a vida de muita gente. Revolucionou a minha. Me fez entender que somos milhões e que luta mundial pela garantia de direitos da população LGBT é irreversível."

Fonte: Márcio Anastácio