A pensadora pan-Africanista, afrocentrada e garveysta Anin Urasse, do grupo Reaja da Bahia, escreve:
"As discussões sobre suicídio voltaram à tona. Rolo a TL e só da isso. Setembro era pra mim o melhor mês do ano (o mês do meu aniversário, o mês da chegada da primavera) até que inventaram essa desgraça de setembro amarelo. Da campanha aos posts no face, eu só vejo tragédia.
Meu pai e minha irmã mais velha se suicidaram. Já escrevi sobre isso até, e às vezes eu comento. Meu pai se enforcou. E minha irmã tomou um punhado de remédios antidepressivos - a suposta cura. 2009 e 2015. Esse mês está fazendo 3 anos que Gilca deixou um filho de 14 anos e até hoje minha família paterna não lida bem com o suicídio de meu pai. Quando perguntadas, minhas tias dizem que ele morreu do coração. (O que não deixa de ser verdade.)
Não tenho todas as respostas acerca desse assunto, mas acho que, minimamente, sei o que NÃO fazer. Um dos problemas das discussões sobre suicídio é que, na busca por culpados (no sentido cristão do termo mesmo) se atribui a responsabilidade a quem rodeia essas pessoas.
Eu até gostaria que as coisas fossem tão simples, como prega o setembro amarelo: "vamos conversar inbox/ fique atenta aos sinais" mas nada que diz respeito à nossa existência preta é simples. Você não pode esvaziar o sentido de existência de um povo e depois responsabilizar a ele mesmo. (Aliás, pode-se, né? Tem de tudo nessa maafa.) Como vocês podem pensar que eu evitaria o suicídio de minha irmã dizendo "meu inbox está disponível pra você desabafar"? Fico me perguntando se o nome disso é ingenuidade ou sadismo. Às vezes me parece que as pessoas descobriram o tema e zás! "Vou fazer um post sobre isso." Que tragédia, meu deus.
Não vou me estender. O assunto é delicado, eu até teria mais algumas coisas a falar, mas vamos em doses homeopáticas. Quando vocês fizerem posts sobre o tema "suicídio", tomem cuidado pra não serem inconseqüentes.
Lembrem-se que pessoas que se suicidam deixam familiares que já lidam com o trauma da perda. Tudo o que NÃO precisamos é gente falando asneiras num post de facebook. Depois a tragédia se repete e vocês voltam a culpar (no sentido cristão do termo) quem também está sofrendo.
Quer ajudar? Acho que esse é um bom começo: seja mais cuidadoso. Se não sabe o que dizer, cale-se."