Numa manhã qualquer em dezembro, ho ho,ho,ho eu a encontrei, no centro da capital de Maceió, com os olhos injetados de drogas e todas as tristezas do mundo. Estava em surto e arrastava um corpo cansado de chagas.
Ela já teve sonhos, eu os escutei. Pensava em terminar os estudos, fazer um faculdade, ter um trabalho...
Serenava ter sossego e descanso nos caminhos do mundo, mas, a pobreza, a opressão social e os descasos institucionais jogaram-na na vala comum.
Depois que ela saiu da Unidade de Internação Feminina até tentei arrumar-lhe uma ocupação remunerada, mas, todas, TODAS as portas que bati se fizeram surdas.
Uma promessa de emprego que recebera de uma autoridade escorreu pelo ralo do esquecimento. E ela estava, novamente, só.
Eu a vi no comércio, em surto e não me aproximei. Senti-me incapaz e culpada. Os olhos dela informavam da ferocidade pelo abandono social.
Eu a vi e pensei em tudo que poderíamos ter feito por ela e fazemos/fizemos tão pouco. Ela só tem 21 anos e sua vida já é um descarte social.
Eu a vi e não quis me aproximar. Ela estava em surto e eu de mãos vazias.
Eu a vi, preta, pobre,drogada e invisível nas ruas,e em mim invadiu um cansaço extremo. A sensação de enxugar gelo.
De quando em vez, minha esperança entra em surto.
Fica exausta.
Feliz Natal! Ho ho,ho,ho!