Os olhos febris reconhecem a fome. Uma fome esticada, secular. A fome na memória do cérebro, que não termina.

Que é a de todos os dias, e dia após dia. Aquela fome que de tanto sentir já se acostuma, mas, continua sendo fome.

A fome dava-lhe a certeza de mais um dia de estômago sendo enganado, com a cola que o sapateiro, ofereceu como alimento e o deixa com sonhos de papelão.

A fome dele é um anúncio no corpo todo. Um esvaziamento inchando de raiva os olhos febris de descontentamento. Terá o menino contentamentos?

O menino divide o mundo assim. Entre a fome faminta que faz roncos na sua vida toda, e o resto do dia para pensar que a fome pode ser um equívoco de algo que deu tremendamente errado.

Os olhos febris do menino reconhecem a fome.

Novamente.