O médico aposentado Hemerson Casado (PP), primeiro candidato portador da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) do país, não anda, não fala, nem pode levantar crianças no colo, como fazem os políticos tradicionais, mas não abriu mão de ir às ruas, em uma campanha onde demonstra que as limitações físicas impostas pela doença não afetam sua capacidade mental, nem de ação.

Em conversa com o Blog, ele falou sobre morte, preconceito, fé, afirmou ter condições de exercer um mandato de deputado federal e deixou claro que a ELA não é o fim.

“Desde que eu recebi a minha sentença de morte, vi várias pessoas, próximas de mim ou não, morrerem de várias maneiras. Quem sabe o dia de amanhã? Só Deus. Fiz a minha opção de trabalhar em prol dos que precisam de ajuda. Saí de casa, da minha zona de conforto para seguir com o meu compromisso de médico de servir ao próximo”, afirmou.

“Eu tenho condições de me comunicar e de responder a qualquer questão que a população tenha. Entendo todas as dúvidas sobre a minha capacidade para exercer um mandato de deputado federal, mas eu acho que ao longo desses seis anos de doença, eu tenho aprendido que o paciente com esclerose lateral amiotrófica, pode ultrapassar limites na vida e que não podemos perder a vontade de viver e lutar por um mundo melhor e mais justo”, contou.

Janelas da alma

Com a ajuda de uma equipe de profissionais de enfermagem, o candidato participa das atividades de campanha na cadeira de rodas e percorre os locais em uma van adaptada.  Ele se comunica por meio de um dispositivo chamado Tobii, instalado no computador.

“A tecnologia me ajuda muito em tudo, ou diria, em quase tudo. Eu me comunico através de um software de origem sueca, que tem um mouse optico, o qual me permite teclar com os meus olhos. Isso mesmo, com os meus olhos. Dizem que os olhos são as janelas da alma, então tudo que eu falo, vem direto da minha alma”.

Ser político

Frisando levar uma vida produtiva, comandando o Instituto Hemerson Casado, trabalhando 18 horas por dia, viajando o Brasil e o mundo, além de manter uma rotina social, familiar e de estudos, ele diz que não vê como seria diferente em um mandato: “A lei brasileira diz que não sou eu quem tem que se adequar ao Congresso Nacional, mas sim o congresso que tem que se adequar às necessidades de pessoas na mesma situação que eu... Encontrei na política uma oportunidade de transformação social”.

Revelando que sempre foi um “ser político”, Hemerson disse que o desejo de ingressar na vida pública se acirrou com a medicina e com a doença rara que traz, além do sofrimento, a sensação de abandono, principalmente pelo Poder Público: “Eu brincava com os amigos, que eu seria presidente do Brasil. Tudo me relacionava à política e quando eu senti que o Brasil estava precisando de novas lideranças, imediatamente eu decidi que era a hora”.

Sobre o foco de um possível mandato, afirmou que o fato de ser um ativista em defesa dos portadores de doenças raras não irá impedi-lo de servir aos interesses dos alagoanos em geral.

Preconceito

“Tenho uma personalidade forte e isso me faz enfrentar o preconceito e a descriminação. O fato de que eu trabalho, produzo muito, sirvo ao próximo, me ajuda muito a superar tudo. O amor da família, minha fé em Deus, minha experiência de vida e minha inteligência são fatores preponderantes na superação do preconceito”, resumiu, ao responder sobre como lida, no dia a dia, com o preconceito.

“Existe uma enorme diferença entre ser médico, servir à saúde e servir a Alagoas e ao Brasil. Eu quero ser um digno representante de nossa amada terra e peço aos alagoanos que me deem um voto de confiança”, concluiu, com suas janelas da alma.