Eu o conheci aos 11 anos, na Escola Estadual Lafayette Belo, no Complexo Residencial Benedito Bentes.

Era um menino pobre, mas, extremamente cuidadoso de gentes, com uma inteligência acima da média e sempre buscava descobrir ângulos, lugares, no desbravar universos díspares.

Um líder nato, que , mesmo assim sofria com o tal bulling, mas,  seguia adiante.

Um menino superpovoado de esperanças. Tinha disposição para correr atrás do que acreditava.

Era um cultivador de sonhos e se determinou a tirá-los da cabeça pra impô-los na vida real. Professora- dizia: vou crescer e um dia vou ganhar mais do que  a senhora.

Fui sua professora de português e língua francesa. Tínhamos uma relação bem legal, quando nos encontrávamos sempre lançava  um: “Comment ça va?”

Na lida da vida, nossos caminhos se separaram, mas, acompanhei  sua ascensão como vereador da capital,Maceió.

 Fincou raízes no Complexo Residencial Benedito Bentes. Faz pouco soube que Silvânio Barbosa foi assassinado a facadas.

Ele tinha uma realidade complexa. Enterrou dois irmãos, o Cícero e o Sérgio ( que também foram meus alunos e morreram assassinados ), pelejou um bocado na vida  e se transformou no cuidador zeloso da mãe.

Vereador atuante e multifacetado tinha falas agudas, que alimentavam  atmosferas ásperas das disputas e contendas.

Sua vida trazia  um repertório eivado de metáforas, como um vocabulário pessoal e intimo, construindo  hiatos, que às vezes, não dialogavam com realidades.

O menino que conheci, aos 11 anos, asseverando ganhos maiores que os meus, sua professora, logrou o  intento e se destacou na multidão, agora está morto.

E quem matou o menino, a política ou a homofobia?

Segue em paz, menino.

Que a terra lhe seja leve.