Tarde de quarta-feira, perdida entre os livros na prateleira em uma loja de Maceió, ouvi de longe o entusiasmo na voz infantil , pontuada de exclamações:- Meu Deus, esse livro é lindo! Ai, e a história desse é ma-ra-vi-lho-sa!
Achei aquilo tão inusitado que me voltei curiosa para conhecer a personagem, com tão completo encanto literário. Pensei em encontrar uma meninazinha, entretanto, para minha surpresa, ao me virar deparei-me com um meninozinho de uns 8 anos.
Fiquei surpresa, sim, pois apesar de ter um corte de cabelo masculino, vestir roupas masculinas e etc e tal, aquele menino-de-ci-di-da-men-te era uma menina.
O jeito de falar,os trejeitos, tudo lembrava uma pessoa de outro sexo. E aquele menino não imitava ninguém, a alma feminina nele era tão natural, tão exposta, que causava um certo impacto ele não ser uma menina.
No meio das minhas elucubrações saindo não sei de onde, aparece um homem, com aspereza na fala, que grita com o menino:
-Já disse que você tem que ser comportar como um macho, não como uma mulherzinha. Você tem que aprender a falar como homem, e, retirando bruscamente o livro das mãos do menino- E vamos parar com essa coisa de tanta leitura. E pegando o braço do filho, diz: Vamos ali que preciso lhe ensinar o que é ser homem.
Fiquei ali observando o quarteto, tinha mais uma menina e outro menino. Eram parecidos, não soube precisar se eram irmãos, mas, fui embora com uma certeza: das dores e sofrimentos pelos quais aquela criança vai ser submetida,pelos caminhos do crescimento.
Espero que um dia o pai a acolha e a respeite. Ensinando ainda a se defender das malvadezas do mundo.
Assim como o pai dele, a vida vai maltratar o meninozinho.