O médico José Wanderley Neto, o Dr. Wanderley, reagiu ao "despejo" manifestado pela Santa Casa de Misericórdia de Maceió ao decidir encerrar o trabalho realizado pelo Instituto de Doenças do Coração (IDC). 

A repercussão nas redes sociais e na imprensa é grande por conta da prestação de serviço à população que sempre foi conduzido o IDC dentro do hospital.

Por decisão do provedor da Santa Casa de Maceió, Humberto Gomes de Mello, o fechamento do Instituto ocasionará na perda de atendimentos cardiológicos para centenas de alagoanos. 

Em carta enviada à imprensa, Dr. Wanderley relata toda situação ocorrida pelo fechamento e fala com dedicação sobre a experiência por cerca de 40 anos de história profissional e dedicação à cardiologia e à honrosa instituição filantrópica (Santa Casa). 

Vale ressaltar que, durante todo esse tempo de IDC, foram feitas mais de 20.000 operações e o treinamento de mais de 80 cardiologistas, colocando Alagoas no mapa cientifico do Brasil, ao realizar contribuições relevantes e originais que serviram de modelo para o país. 

Ao citar sobre o "desmonte" do Instituto de Doenças do Coração, Dr. Wanderley Neto tratou do despejo determinado pelo provedor de "situação incompreensível, do desmonte injusto e irracional" tomadas pela atual direção da Santa Casa. 

"O desmonte, injustificável, continuou com várias medidas tomadas pela atual direção e causou a divisão do corpo clínico e separamento dos setores, promovendo discórdia e fazendo desaparecer, gradativamente, a importante contribuição dos cardiologistas fundadores do serviço de cardiologia e a referência na especialidade. A ação de desmonte continuou com o fechamento do Instituto de Doenças do Coração (IDC), onde dispúnhamos de sala administrativa, sala de reuniões e biblioteca que proporcionaram um vitorioso programa de treinamento em cirurgia cardiovascular, essencial para que tivéssemos a continuidade e a ampliação do atendimento cirúrgico no estado. Diante dessa situação incompreensível, do desmonte injusto e irracional, comunico que não sou mais o coordenador da cardiologia e da cirurgia cardiovascular da Santa Casa", escreveu na nota. 

Além da nota enviada à imprensa, o respeitado médico alagoano também divulgou um vídeo mostrando a importância do Instituto de Doenças do Coração (IDC) que - ao longo desse tempo - realizou 40 transplantes cardiológicos, operou mais de 20 mil alagoanos e teve a formação de mais de 80 cardiologistas. 

Veja abaixo!

 

Carta enviada pelo dr. José Wanderley Neto aos alagoanos.

Maceió, 14 de Junho de 2018.

          Meu nome é José Wanderley Neto, alagoano de Cacimbinhas, médico, cirurgião cardiovascular com mais de 40 anos de história profissional e dedicação à cardiologia e à honrosa instituição filantrópica, Santa Casa de Misericórdia de Maceió.

Durante esse período não medimos esforços para salvar vidas e acalentar os corações dos que mais necessitam de assistência, o alagoano pobre e dependente do SUS. São pessoas que precisam da essência filantrópica do hospital e abnegação de sua equipe médica.

Estivemos sempre, eu e toda a minha equipe de médicos e demais profissionais de saúde, superando os desafios e obtendo conquistas para a cardiologia alagoana, e, agregando ensino, pesquisa e assistência, operamos mais de 20.000 doentes e treinamos mais de 80 cardiologistas, colocando Alagoas no mapa cientifico do Brasil ao realizar contribuições relevantes e originais que serviram de modelo para o país, a exemplo o programa de transplante de coração, iniciado há 25 anos, com histórias de vida emocionantes.

Mas, revestido com a falácia FINANCEIRA, o espírito original e norteador das ações clínicas e institucionais da Santa Casa, que é a FILANTROPIA, se perdeu com o comando ditatorial de uma gestão predatória, que busca eliminar os que não concordam com o afastamento da instituição do seu motivo SER, defnido desde quando fundada há mais de 150 anos, que é cuidar dos mais desfavorecidos e prestar um serviço de excelência e humanizado para toda a população alagoana.

Em 2014, a atual direção da Santa Casa de Misericórdia de Maceió decidiu fechar o centro cirúrgico da cardiologia, iniciando o desmonte de todo o serviço. Na ocasião, comunicamos à Mesa Administrativa, por escrito, para que ficasse marcada a posição da equipe alinhada com as melhores práticas de cuidados em cardiologia (anexo I).

O desmonte, injustificável, continuou com várias medidas tomadas pela atual direção e causou a divisão do corpo clínico e separamento dos setores, promovendo discórdia e fazendo desaparecer, gradativamente, a importante contribuição dos cardiologistas fundadores do serviço de cardiologia e a referência na especialidade.

O Dr. Cid Célio Cavalcante é uma das vítimas desse desmonte. Ele abandonou constrangido o serviço de hemodinâmica ao constatar que dois médicos tinham entrado no serviço sem a sua anuência e sem nenhuma necessidade técnica ou justificativa.

Os médicos fundadores do serviço de cardiologia que permanecem não são chamados para serem ouvidos pela atual direção e, por isso, lamentavelmente, não têm nenhuma participação nas decisões, sejam administrativas ou técnicas.

Leitos foram suprimidos, decisões foram tomadas a esmo, sem consulta ao Conselho Médico, que continua fechado, sendo introduzida mais uma “equipe de cirurgia” sem necessidade ou fundamento. De modo que, atualmente, não temos mais uma equipe de cirurgia cardíaca na Santa Casa, mas cirurgiões que operam doentes quando há vagas. 

A ação de desmonte continuou com o fechamento do Instituto de Doenças do Coração (IDC), onde dispúnhamos de sala administrativa, sala de reuniões e biblioteca que proporcionaram um vitorioso programa de treinamento em cirurgia cardiovascular, essencial para que tivéssemos a continuidade e a ampliação do atendimento cirúrgico no estado.

Diante dessa situação incompreensível, do desmonte injusto e irracional, comunico que não sou mais o coordenador da cardiologia e da cirurgia cardiovascular da Santa Casa.

Entretanto, esclareço que o Instituto de Doenças do Coração (agora extinto pela direção) continuará existindo, porque é uma ideia bem-sucedida, em defesa do ensino, da pesquisa e da assistência, e não depende de estrutura física ou de bens materiais.

Portanto, sendo uma ideia, permanecerá vivo e atuante, sendo substituído apenas por outra ideia melhor. E continuará existindo graças aos inúmeros cardiologistas que foram formados e atuam em Alagoas e na Santa Casa.

A equipe da cardiologia e cirurgia cardiovascular, conforme histórico e cartas envidas a Mesa Administrativa da Santa Casa de Misericórdia de Maceió, nunca se recusou a contribuir com a gestão e na melhoria de fluxos e processos, visando sempre o bem estar do paciente e sustentabilidade financeira para manutenção dos programas e ações assistenciais.

Lembro que em janeiro de 2015, parte expressiva do corpo clinico solicitou reunião com a Mesa Diretora da Santa Casa, que só foi agendada em junho do mesmo ano, e manifestou por escrito (anexo II) o inconformismo gerl, sem, entretanto, qualquer mudança visível. Coordenado pelo Prof. Carlos Macias, foi sugerido um plano de estruturação da Cardiologia que foi solenemente ignorado pela direção.

Em que pese as circunstâncias adversas, continuarei como cirurgião na Santa Casa e cuidarei de quem me procurar, embora lamente, profundamente, que existam grandes limitações impostas pelo modelo adotado pela direção para a realização do exercício pleno da cirurgia cardiovascular.

Compreendo, plenamente, que a Santa Casa é um hospital comunitário e que as pessoas que o administram passam. 

Entretanto, também estenderei meu trabalho a outras instituições e lutarei para ampliar os leitos de cardiologia e melhorar o atendimento a todos os alagoanos, principalmente aos que dependem dos SUS, continuando firme na missão que iniciei há 40 anos quando retornei à minha terra para implantar a cirurgia cardíaca.

Agradeço a confiança dos alagoanos, que ao longo dessas décadas escolheram e confiaram em nossa equipe e nosso compromisso de atender a todos com correção, humanismo e solidariedade.

Que Deus abençoe a todos.

Cordialmente,

Dr. José Wanderley Neto

Resposta da Santa Casa

Em nota, o diretor técnico da Santa Casa de Misericórdia de Maceió, Arthur Gomes Neto, esclarece informações veiculadas pela imprensa alagoana. 

Vejamos: 

1 – A Santa Casa de Maceió não despejou o Instituto de Doenças do Coração (IDC). O local onde funcionava o IDC entrará em obras de reforma nos próximos dias, dentro do plano de investimentos previsto para este ano.

2 – As consultas de convênios e particulares, antes atendidas no IDC, estão sendo realizadas temporariamente em novo complexo na Rua Pedro Monteiro, 275 (vizinho à Procuradoria Geral de Maceió), conforme foto abaixo.

3 – O Instituto de Doenças do Coração nunca atendeu pacientes do SUS. As consultas são apenas de convênios e particulares.

4 – As consultas ambulatoriais cardiológicas do SUS são realizadas na Santa Casa Poço e no novo Centro Médico Duílio Marsiglia e, enfatizando, nunca foram realizadas no IDC.

5 – Não houve redução de cirurgias cardiológicas do SUS na Santa Casa de Maceió. Pelo contrário, o DataSUS (ver tabela abaixo) registra aumento de 499 para 552 procedimentos entre 2016 e 2017. Somente nos quatro primeiros meses de 2018 foram realizadas 181 intervenções, bem acima do realizado no mesmo período em 2017 (160 cirurgias) e em 2016 (130).

6 – O centro cirúrgico da Santa Casa de Maceió jamais foi fechado. O complexo de 13 salas cirúrgicas, inclusive, tem duas destinadas a cirurgias cardiológicas.

7 – Toda equipe da Cardiologia da Santa Casa de Maceió continua exatamente a mesma, atendendo SUS sem qualquer redução em seus quadros.

8 – A equipe de cirurgia cardiológica foi ampliada, contando agora com sete cirurgiões.

Diante de tais esclarecimentos, a Santa Casa de Maceió vem de público reforçar seu compromisso com os pacientes cardiológicos do SUS assim como de outras especialidades em Alagoas.

Artur Gomes Neto

Diretor técnico Santa Casa de Misericórdia de Maceió

CRM/AL 2503

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Atualizada às 7:52hrs!