-A senhora esteve no Pelourinho, em Salvador este ano não esteve?- me perguntou uma das presas que participava da Parada da Feijoada Solidária com as Mães Encarceradas, ou as Grades dos 130 anos da Abolição Inconclusa, realizada pelo Instituto Raízes de Áfricas, no Presídio Santa Luzia, na segunda-feira, 14/05.
Afirmei que sim, ela exultante virou-se para a companheira que estava ao lado e falou:- Eu não disse? Não esqueço um rosto, e retomando a conversa: Estava dizendo pra minha colega aqui, que já tinha visto a senhora quando eu estava do lado de fora. Lá no Pelourinho, em Salvador. Até assisti uma palestra sua.
E você veio de Salvador para Alagoas, mulher?- perguntei para aliviar a travessia brusca ,no diálogo sobre liberdade, por entre as grades.
Ela me respondeu severamente- É vim cair em Alagoas e agora estou aqui.
Era uma mulher de traços rústicos, uma preta com o volume dos cabelos alisados, feições bastantes definidas entre a dor e o abandono. Gente assim, como eu e você.
Não sei o crime que ela cometeu, também não procurei saber. Em algumas situações é melhor não saber, para que nossa humanidade não seja provocada por pré julgamentos.
Mas, a preta presa, continuou em uma conversa amena, como se assim pudesse esticar o tempo de respirar a liberdade d’antes vivida nos caminhos do Pelourinho, e no fim afirmou:- Gostei do seu visual, era o mesmo que usava quando estava lá fora. Gostei de rever a senhora. Obrigada por esse trabalho.
Ela era uma mulher preta que me conhecia antes de se tornar presa.
E mesmo assim continuamos a falar de liberdade