negrobelchior escreve:

 

A família real britânica não exerce poder político definidor há tempos. Mas seu simbolismo e tradição são algo caro aos ingleses e deveria ser caro ao resto do mundo também. Em especial aos descendentes de africanos e, sobretudo em países vítimas da colonização pelo mundo afora. A família do noivo ruivinho tem uma tradição de cerca de mil anos. Atravessou, portanto, o antes, o durante e o depois dos quase 4 séculos de escravidão mercantil que devastou a África e assolou o chamado novo mundo.
O tráfico de pessoas escravizadas se estendeu por este período e vitimou, por baixo, cerca de 12 milhões de seres humanos africanos. A riqueza gerada pela escravidão rendeu à Inglaterra o acúmulo primitivo de capital suficiente ao advento da primeira revolução industrial e manteve este país como a grande potência mundial nos séculos 18 e 19. Isso mesmo, o sangue do parto do capitalismo mundial é de africanos escravizados, indígenas e seus descendentes. Ainda hoje a família real detém, além do financiamento do governo/estado inglês, o patrimônio de terras e negócios na Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte e uma fortuna imensa não revelada.
Todo o glamour, a elegância e a riqueza do casamento dos pombinhos, tem essa origem aí... sacou?

É até bonito ver uma neo-princess-afro sorrindo na tela, uma mãe preta super elegante e emocionada, um coral black super afinado e um pastor preto simpático citando Luther King. Mas comemorar um casamento real em um pais imperialista, colonial e escravocrata como um ganho para a comunidade negra ou para o povo negro, aí não. Por favor! É preocupante a adesão, em especial pela negrada, ao crescente discurso de valorização de uma representatividade vazia de significado, legitimidade e preocupação com a coletividade, cada vez mais liberal e individualista. Será que não aparecemos ali exatamente no lugar de sempre? Servindo, cuidando, cantando, orando e embelezando a vida deles?

Será essa a representação que precisamos alimentar?