E na manhã da quarta-feira, 04/04, elas atravessaram o longo corredor do presídio, em silêncio, mas, em seus olhos havia asas. Chegaram curiosas, expectantes. Eram 30 mulheres. 29 mães.
Todas encarceradas no Presídio Feminino Santa Luzia, em Maceió,AL.
O Instituto Raízes de Áfricas, em parceria com a SERIS propôs uma Roda de Conversa, digamos maternal.
O objetivo da Roda de Conversa Mães Encarceradas: Entre as Grades da Prisão e a Liberdade d@s Filh@s, foi propor um diálogo que extrapole o processo de individualizações, desarmando intransigências.
Falar sobre e com as mães encarceradas que embalam saudades dos filhos, moradores dos perigos que rondam o mundo, lá fora. Vivem sem grades, mas, nem sempre livres.
Convidada a ministrar as oficinas dentro da Roda de Conversa, a educadora e assistente social Veraleide Nazaré, contando com a ajuda da especialista em criança e adolescente Nelma Nunes, mexeu, no vespeiro dos silêncios sem sons. Das rupturas nas relações familiares. Das ausências.
As dinâmicas trabalhadas por Vera deu voz às mulheres que, muitas vezes, tem seus direitos silenciados, ignorados.
A enorme carga de afeto e doação que Veraleide tempera esses momentos promove um olhar mais humano sobre pessoas. E é ela quem diz “Eu aprendi uma coisa na vida: a servir. Servir é muito melhor do que ser servida.” Precisamos aprender a cuidar uma das outras-" falava Veraleide a 60 pares de olhares atentos, outros lacrimejantes.
"Existem prisões na mente, como os sentimentos. Eles às vezes nos prendem, entretanto ninguém tem o poder de roubar nossos sonhos."
As palavras ecoaram e Maria Jose se levanta para dizer: “Perdi meu primeiro filho quando só fazia um mês que minha mãe tinha falecido. 10 meses depois perdi a outra filha.”
E Maria chamou o público à reflexão: "Façam uma análise se compensa a gente está aqui. Ganhamos o quê?"
O desabafo se faz essência: ‘Minha mãe tinha câncer e guardou, por 18 anos, essa doença para ela. Ela só esperou eu sair da cadeia para cuidar dos seus últimos momentos..."
"Eu estou aqui por conta da violência doméstica"- fala mais uma voz querendo ser ouvida. "Violência física a gente cuida. Emocional deixa a alma da gente toda quebrada.Obrigada dona Vera pela oportunidade de falar de nossas vidas" - concluiu.
E Yara sintetiza: "Eu vejo que minhas escolhas me prejudicaram. Eu sei o sofrimento que é ser mãe e ter filhos distantes."
A Roda de Conversa idealizada pelo Instituto Raízes de Áfricas é um dos pequenos ensaios de possibilidades. Um mecanismo ,ainda tosco, buscando criar portas de saídas, a partir da terapia da palavra: falar e o escutar, respeitando os tempos e histórias de cada pessoa.
A equipe do Instituto Raízes de Áfricas e convidad@s, ao dialogar com a diversidade de linguagens dos muitos e outros mundos, percebe o desafio de semear relações de continuidade.
Na cadeia vida se transforma em resumos: “A cadeia me ensinou a ser uma mãe, filha, esposa, uma pessoa melhor. A cadeia não é o fim. É o começo de novos desafios.”
Obrigada por você e o seu Instituto não nos esquecer
Manda um beijo para toda sua equipe. E volte, viu?