Ele morava em uma dessas muitas e tantas periferias anônimas na grande Alagoas, dos Palmares.
Tinha mãe, pai e três irmãs. Não fumava, não bebia, mas, era preto e tinha nome de Jesus.
E como preto é elemento sempre suspeito ele foi abordado, numa noite sem motivos ,e o medo da força armada do estado o fez correr, ao correr levou tiros certeiros na cabeça.
Não foi tiro para imobilizar o suspeito, como diz a regra.
A ordem seca era matar,matar,matar.
Jesus foi morto.
Esse Jesus nasceu em uma quebrada. Trabalhava feito gente grande, não tinha tempo de estudar. Era o homem da família. O pai se enrabichou por uma fulana, bem mais jovem e deixou a mãe com três filhos para criar.
Ela, analfabeta, não tinha muito para onde ir. Aceitou lavado de roupa.
Ele, jovem sabia rabiscar o nome e foi trabalhar como entregador, sem horário, sem carteira assinada, sem direito a sonhos.
Era um jovem trabalhador anônimo.
Jesus!
E morreu metralhado pelo racismo, pela pobreza, a ausência de possibilidades.
E dai?