Encontrei-a na caminhada diária. Ela me interceptou e iniciamos  uma conversa sobre escolas, abandonos, e desaprendizados, daí  me falou do filho que se matou aos 17 anos, com um tiro no ouvido, usando a arma do pai.

Uma senhora cheia de dores na alma.

-"Faz  22 anos, mas, eu vivo  a morte dele todos os dias- disse chorosa.  Quando ele  morreu, levou meu coração junto. Não tenho mais vida. Uma morte assim desestrutura a família. Quem fica morre todo dia.

Está vendo esse terço,( mostra as mãos)  rezo toda hora, todo instante, me perguntando o que fiz de errado. Tenho uma filha que sofre problemas psicológicos. É uma tristeza tão grande..."

Pergunto-lhe do motivo da morte e ela me conta  uma história cheia de detalhes e sintetiza: Meu menino se matou porque dizia que o pai não gostava dele.

Ao longo da caminhada ela foi acumulando a conversas de sentimentos confusos e convulsivos.

No sinal  despedi-me dela, que  me pediu inúmeras desculpas pelo  desabo. É que ainda dói muito, afirmou.

Abracei sua dor, enquanto as lágrimas invadiam seus olhos.Disse-lhe, como consolo  que era hora de parar de chorar para cuidar dela e do espírito do filho. Ela disse: Tenho  visto você caminhando e hoje resolvi conversar. Obrigada por me ouvir.

Ela se foi, com sua blusa amarela,levando consigo a  alma de uma mãe órfã de sonhos. Uma alma despedaçada pelas dores da perda abrupta.

Precisamos conversar sobre suicídio.