Nós, o povo do mundo, somos frutos da visão cristã  sobre a  criação do universo , a partir de Adão, Eva e a maçã, do  pecado original.
E  a questão posta é: A culpa  coletiva herdada do  pecado original, não foi definidora do bem e do mal contemporâneos?
Agarrados à costela de Adão ( nosso sentimento em relação ao machismo é um tanto bíblico, né, não?)  e embriagad@s pelos rótulos sociais, e a opressão das religiões ( Viva, o Papa Chiquinho)  temos uma imensa dificuldade de fazer a  releitura pessoal , em relação as novas significações e significantes do termo gênero, que  vai para além do  nascer ( sexo masculino=homem) ou do (sexo feminino= mulher).
 Essas  novas categorias na questão de identidade de gênero confundem e  atordam uma grande parte das gentes,( muit@s de nós),  com a mente alimentada  e retroalimentada  pelo universo religioso e cultural da    tipificação de personagens, com  corpos  sociais,bem definidos.
Manhã de quinta-feira, 01 de março, em Brasília e a  moça me conta da intima ligação que nutre com o cabra branco. Da certeza do amor que sente por ele,mas, ao mesmo tempo se percebe triste, porque a recíproca não parece verdadeira. E afirma em um diálogo de dor: as vezes acho que ele tem vergonha de mim. Não saímos juntos, apenas em cantos escondidos de todo mundo. Ele diz que me ama, mas, não me mostra.Acho que isso é porque  além de eu ser travesti, sou preta e pobre.
Ouço o desabafo da moça e fico pensando em quantas estratégias de enfrentamento  ela vai precisar criar para  fazer a travessia por entre o racismo, machismo e o preconceito de classe. Os marcos de opressão históricos e culturais que  mutilam auto-estima  e as muitas possibilidades de ascensão social. 
Ouço o desabafo da moça ( sem nome, nem sobrenome) e fico pensando no tamanho da solidão que ela expõe num fôlego só, apesar de ter companhia do lado.
Também penso na culpa cristã que a moça carrega por seu corpo ocupar um território feminino. Sim, ela tem medo da violência, dos ódios alheios.  Sim, ela tem a identidade de gênero, socialmente, negada.
Penso tudo isso e  componho, internamente, os   afetos, desejos, a delicadeza da  verdadeira essência do amor, que deveria ser além...
As perguntas  são múltiplas. As respostas complexaas  e diversas, mas, os porquês permanecem.
Afinal, quem ama uma travesti preta?