Não sei seu sobrenome. Não perguntei. Ela puxa a cadeira e sentou ao meu lado para comer  um alimento pago pela generosidade de alguém. Trazia  a pele marcada pelo abandono, as roupas com cheiro de rua. Começamos uma conversa cheia de reticências.

Ela me diz que  mora na rua faz 15 anos e usa crack faz um ano.

Como é teu nome, pergunto:- Monica, diz mordendo um suculento pedaço do sanduíche. E sua família, Mônica?

Não tenho família moça, larguei meus filhos tem um tempo. São 4 e moram com o pai, em Recife. Eu sou pernambucana.

Eu uso crack, moça, faz um ano. Essa droga desgraçou minha vida e eu não consigo largar. As lágrimas despencam abundantes umedecendo o sanduíche em suas mãos.

Monica chora, convulsivamente e digo-lhe que é necessário procurar ajuda. Diz que já tentou, mas, o problema não é o tratamento é o depois.

Depois eu volto pra essa mesma rua que eu conheço de cor e salteado, moça e vou cair, novamente. Tem que ter o depois, moça.

Não sei bem o que dizer a Mônica e apresso o passo por conta de compromissos. Antes de ir ,dou-lhe um abraço. Como retribuição beija minhas mãos, em  agradecimento.

Obrigada, moça, por ter me abraçado. Faz tempo que ninguém me abraça. O povo tem nojo da gente e quando a gente é preta, o povo pensa que  a gente é tudo bandido...

Essa é a Mônica, preta, 35 anos, 4 filhos, 15 anos de rua , um ano usando crack e precisando de abraços.

Sim  e daí?

"Pesquisa aponta que os usuários de crack são predominantemente do sexo masculino, em geral aduto jovem até 30 anos, 90% pret@S, 20% brancos e a grande maioria vive em situação de rua."

http://www.observasmjc.uff.br/psm/uploads/Pesquisa_Nacional_sobre_uso_de_crack_e_outras_drogas.pdf