O racismo no Brasil é uma patologia epidêmica que espia pelas frestas das fragilidades humanas e se aloja entre a razão e o bom senso.
Com o advento da Lei federal nº10.639 de 09 de janeiro de 2003- que cria a obrigatoriedade do estudo da África e dos negros e negras descendentes no currículo escolar, as escolas brasileiras têm pela frente a tarefa de preencher, com possibilidades pedagógicas, o hiato presente na história que se conta e criar espaços estratégicos para o estudo das relações inter-raciais nesse universo.
A história do povo negro é seqüestrada diariamente no cotidiano das salas de aula, nas páginas dos livros didáticos e em cada esquina do conhecimento pedagógico. Recentemente, uma professora afirmou em sua aula de história que o “país” África era pária do mundo, não muito contente com a abrangência do substantivo mundo, ampliou para universo.
Meninos e meninas demonstraram uma má disfarçada inquietação. Não que ousassem contestar a absurda avaliação histórica da mestra, simplesmente não sabiam o significado de “pária”.
Reinventam-se fórmulas para a perpetuação da “teoria das raças”. Emudece a voz histórica e as nossas concepções eurocêntricas ganham a interpretação de história verdadeira. Vira-se a página!
Outra professora transformou em lenda a história de Zumbi dos Palmares. Uma meninazinha levantou o braço e perguntou? Tia, Zumbi não existiu? E a mestra enfática: não foi bem isso que quis dizer, mas disse, afetando de modo decisivo a percepção de crianças, ainda pequenas sobre Zumbi, o Rei de Palmares!
É a pedagogia caduca na busca dos semelhantes e da exclusão dos “diferentes”, ganhando sobrevida nas salas de aula, criando espaços estéreis feito páginas em branco, onde tudo pode ser imaginado, segundo a preferência do freguês/freguesa.
É nossa ignorância histórica limitando as muitas possibilidades para que meninos e meninas, mesmo não tendo uma linguagem comum, estabeleçam espaços de partilha ética e respeito ao outro/outra. É o racismo nosso de todo dia que põe a burca e europeíza nosso olhar.
O mito da miscigenação brasileira serve de pano de fundo para mascarar, normatizar e internalizar o racismo cotidiano. Qual a escola brasileira que se atreve a dizer que a Princesa Isabel foi uma lenda?