O Brasil está vivenciando seu momento de maior profusão popular dos debates políticos. As redes sociais, antes palco para modas inofensivas (como fotos de viagens e de comida) ou divulgação de uma vida supostamente perfeita por quem não se cansa da própria exposição – os posers -, ganharam nova função e passaram a abrigar embates argumentativos acirrados. Sintomaticamente, diante de uma esquerda fragilizada pela realidade de seus incontáveis fracassos, boa parte dessas discussões se resume ao âmbito do que se poderia chamar de direta. E, nela, o que se vê são dois lados bem definidos: os que defendem a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República e os que a atacam.

Do lado da desconstituição da candidatura, estão os direitistas de uma chamada ala liberal, formada por expoentes intelectuais – verdadeiros ou forjados -, para os quais Bolsonaro é demasiadamente “chucro”, especialmente em sua visão econômica. Em lado oposto, há uma massa de brasileiros saturados com o status quo, que prezam pelo viável, em detrimento do ideal, e veem no atual deputado a única via contra o estamento caótico, mesmo que ele possa vir a ser apenas um mal necessário. Nesse segmento, o fiel da balança não é a economia, mas a segurança pública.

O que parece estar sendo difícil para os ditos liberais entenderem é que a maior preocupação do brasileiro comum está mudando. Está ficando cada vez mais claro que não se consegue emprego, escola ou tratamento de saúde – clássicos focos de atenção – se o indivíduo estiver morto. E nunca se morreu tanto.

Vivemos um momento extremamente crítico de insegurança pública. Não apenas pelos 60 mil homicídios a cada ano, mas pela dinâmica que os envolve. Se, antes, era viável o cômodo discurso de que quem estava se matando eram os traficantes em sua guerra particular, e com isso o cidadão comum não teria nada a ver, hoje não se consegue esconder que a morte ronda todos os cantos das cidades brasileiras e que ela ameaça igualmente a todos. Mata-se por um celular, um carro, um tênis, ou mesmo porque apenas se quis matar. Nem pretexto é mais necessário.

Esse temerário quadro, que parece não povoar o imaginário dos intelectuais liberais, é o foco primordial da candidatura de Bolsonaro. Linha dura contra criminosos, fortalecimento da polícia, porte de arma para o cidadão se defender, fim de benefícios prisionais. Tudo isso está no discurso do pré-candidato, e é justamente assim que ele vem conquistando tanto apoio, pois é com isso que o brasileiro está realmente preocupado.

A ficha parece estar agora caindo no próprio meio político. Estão aumentando aqueles que também buscam o discurso da segurança como mote para a visibilidade, e isso inclui até pegar carona ou reformular propostas em avançada tramitação, como o Projeto de Lei nº 3.722/12, que revoga o Estatuto do Desarmamento. É preciso, a qualquer custo, correr para mostrar que, a pouco mais de um ano das eleições, há outros com a mesma preocupação com a segurança. Mas esses partem tarde, o protagonismo assumido por Jair Bolsonaro já é consolidado, comportando apenas coadjuvantes, especialmente no âmbito do Poder Legislativo.

Aliás, nesse espectro, a mudança de abordagem aos parlamentares é também sintomática. Se integrar a chamada Bancada da Bala já foi um rótulo pejorativo, hoje, a rigidez contra o crime e a defesa do cidadão que ali imperam são méritos perante uma sociedade cansada do medo. A explicação pode vir da racionalidade, algo bem sintetizado pelo filósofo Olavo de Carvalho: “só pessoas totalmente lesadas das faculdades mentais não entendem que a segurança vem antes da economia”. Que ele tenha razão.