Uma pesquisa recentemente divulgada pela agência EFE, muito repercutida no Brasil, notadamente pelos grandes canais de conteúdo, apontou um significativo crescimento na criminalidade no Reino Unido. Até março de 2017, em relação ao período imediatamente anterior, o incremento foi de 10%, maior percentual em dez anos. A alta mais expressiva se deu nos crimes violentos, com aumento de 18%, destacando-se aqueles em que há uso de arma de fogo.

Os dados descortinam uma realidade que põe à prova verdadeiros dogmas da abordagem progressista para enfrentamento da violência criminal, evidenciando mais um fracasso empírico. O primeiro deles, e mais óbvio, diz respeito ao uso de armas de fogo na prática delituosa. O segundo volta-se à compreensão da atuação policial.

Nos últimos anos, em praticamente todo debate sobre o controle de armas, o supostamente exitoso exemplo inglês era invocado para demonstrar como políticas restritivas eram acompanhadas de baixos índices de criminalidade. É fato que o discurso sempre foi muito mais ideológico do que técnico, pois desde 1997, quando o banimento às armas foi formalmente implementado, o que houve foi um crescimento nos indicadores criminais ingleses, e não redução. Porém, como os números absolutos permaneciam muito baixos para os padrões americanos, era fácil associar os fatos. A Inglaterra tinha proibido a circulação civil de armas e mantinha índices de homicídio abaixo de 2 / 100 mil, e era só isso que importava.

Agora, o discurso se torna insustentável. O crescimento dos crimes com uso de arma de fogo desconstrói o mito de que as proibições à circulação de armas impedem que criminosos a elas tenham acesso. Isso não ocorre, e são os indicadores oficiais, com a elevação recorde de agora, que descortinam essa conclusão - como se ainda necessário fosse.

O exemplo inglês de controle de armas, assim, que nunca foi legítimo para os estudiosos da segurança, agora rui para a opinião pública, com o fracasso estampado em grandes veículos de mídia.

E há mais danos à agenda progressista. Ao avaliarem os indicadores agora divulgados, no afã de encontrarem responsáveis para essa verdadeira tragédia para os padrões ingleses, os analistas recorreram a uma desculpa óbvia para o crescimento criminal: a redução do policiamento. O propósito pode ter sido o de atacar a Primeira-Ministra Theresa May, responsável pelo contingenciamento de policiais nas ruas, mas o alvo acertado foi muito mais emblemático. 

Boa parte da narrativa acerca da atuação policial vem sendo construída sobre a premissa de que a repressão empreendida por essas forças não produz efeitos na contenção criminal, pois o fenômeno transgressor seria resultante da dinâmica social, que culminaria por marginalizar os que partem para o mundo fora da lei. A típica ideia da vitimização marginal.

Porém, ao recorrerem à ausência de policiamento como causa imediata do aumento de crimes, os analistas britânicos terminaram por reconhecer o exato oposto do que apregoa a agenda das determinantes sociais. Ou seja, mesmo que o propósito tenha sido político, acabam confessando que é o policiamento ostensivo que inibe o crime e que, sem ele, bandidos se sentem mais incentivados a agir. Portanto, uma polícia forte é, não só necessária, como essencial.

Tal como o desarmamento, assim, o discurso de demonização policial acaba por sucumbir diante da realidade. 

A experiência britânica vem desconstruindo mitos sobre a segurança pública, de forma assaz contundente. Como nos revela a ilha bretã, proibir o acesso legal a armas de fogo não inibe que criminosos a elas tenham acesso, do exato mesmo modo que a repressão policial é, sim, o elemento essencial na contenção das ações daqueles. Importante é ter em mente que, nisso, a terra da Rainha Elizabeth não difere de qualquer outro lugar.