Bati na porta do barraco e ele apareceu com um sorriso do tamanho do mundo e dentes incrivelmente bonitos e brancos, perguntei-lhe qual seu nome.
Alargando, ainda mais, o sorriso, respondeu:- Menino Jesus.
Dei um sorriso de volta para o menino Jesus e meus olhos encontraram as entranhas do cubículo e toda miséria espalhada no cômodo único.
Perguntei a Jesus se sua mãe estava em casa, disse que sim, gritando logo em seguida:- Mãe tem gente!!!!
A mulher não custou a aparecer. Surgiu enxugando as mãos na saia e pedindo desculpas pela bagunça da casa. Falava com sorrisos escapando-lhe da boca farta de vazios. Diferente do filho faltava-lhe muitos dentes, mas, isso não sombreava o sorriso largo e espontâneo.
Apertou-me a mão, efusivamente, e se apresentou:- Sou Maria, a mãe do menino Jesus- disse ela (Uau! Pensei comigo), e fazendo as honras da casa, escancara a porta e diz:- Entra aí, Dona, se ajeite aqui, apontando um sofá que há muitos anos já foi novo.
Entro e me ajeito no sofá.
A casa da Maria, mãe do menino Jesus fica numa dessas grotas da capital alagoana e de longe dá para perceber a vulnerabilidade dessa vida segregada de direitos, além da manjedoura.
Depois da conversa inchada de desabafos das carências sociais (o marido sumiu no mundo embriago de álcool, falta tudo, até comida para o menino), feito por Maria, despeço-me, desejando no fundo d’alma que o menino Jesus, preto, pobre, periférico e com um largo sorriso que abraça sonhos, tenha o direito de se transformar em um homem com o sorriso farto de conquistas.
E saio de lá meditando e pedindo ao Pai Maior e tod@s Orixás permissão para que o menino Jesus tenha direito a ter futuro, ficar velho, diferente de outros meninos, como ele, pretos, pobres e periféricos, que são atropelados e mortos pelo