Entre expressões de espanto, empatia, mas também ressalvas, vários internautas comentaram a reportagem “Almaviva é acusada de adoecer operadores de telemarketing”, veiculada na edição passada do CadaMinuto Press. Foi por meio das redes sociais e nos comentários na matéria publicada na íntegra no portal CadaMinuto, que muitas pessoas, algumas se identificando como colaboradores da multinacional, aproveitaram o embalo da denúncia para relatar situações vividas no ambiente de trabalho.
Somente na Fanpage do CadaMinuto no Facebook, a publicação com o link da matéria publicada no site gerou mais de mil compartilhamentos e mais de 300 comentários. E foi ali nos comentários que muitos se manifestavam também relatando situações semelhantes aos denunciados na reportagem.
Os internautas que comentaram eram em sua maioria jovens em início de suas vidas profissionais, mas com histórias que chamavam a atenção. Muitos reclamaram da experiência tida junto a Almaviva afirmando que o emprego foi uma experiência ruim.
Houve quem contou episódios de suspensões e reclamações dos supervisores por idas ao banheiro, queixas de dores nas costas, frio e sede.
Um deles relata que levou uma suspensão por ter ido várias vezes ao banheiro em um mesmo dia por conta de problemas intestinais. “Fui ao banheiro e levei um: volte, pois já tem uma pessoa e só pode uma por vez!”, escreveu.
A internauta Cláudia Costa relatou que sofreu pressão psicológica e acabou pedindo demissão. Assim como Cláudia, outros internautas reclamaram de mudanças inesperadas em seus turnos sem que antes o funcionário seja comunicado. “Aconteceu comigo, sofri uma baita pressão psicológica e fui obrigada a pedir demissão. Fora que eles ficam te mudando de horário toda semana, sem nem perguntar se vc pode” (sic), escreveu Cláudia.
Outra internauta comentou sua experiência na empresa no Facebook, mas pediu para não ser identificada nesta reportagem. Ela contou que adquiriu problemas nas cordas vocais e tendinopatia, que é uma doença que ataca os tendões e em muitas vezes é de origem ocupacional em virtude de esforço repetitivo.
Em seu comentário a jovem relatou que chegou a relatar o problema nas cordas vocais para o supervisor, mas acabou tendo o problema ignorado. “Pois é isso é um absurdo eu sem voz atendendo e os clientes dizendo que não estava me ouvindo. Fui até o supervisor e o msm disse: fale mais alto e um pouco de vagar. Estou com tendinopatia, sinusite e até msm com muita dor nas costas. Ao entrar o pessoal informa que vai ter um auxílio de um amigo para fazer avaliação de postura para que não haja desconforto, e onde está pessoa? Só vinha de 2 em 2 meses e olhe la”(sic), escreveu.
A jovem foi a única que topou conversar sobre sua situação com a reportagem. Ela disse que trabalha há um ano e dois meses e além dos problemas relatados no comentário na rede social, apresentou queda de cabelo, que ela acredita ser resultado de estresse.
“Em julho do ano passado fiquei sem voz e mesmo assim continuei atendendo. Cheguei até um dos supervisores e ele pediu que eu voltasse a atender falando mais alto e devagar. Depois de um tempo mudamos de supervisor e certo dia pedi para ir ao banheiro e ele disse que banheiro não era para ir a todo instante, que era apenas uma exceção. Daí tive infecção urinária e com um tempo adquiri tendinopatia”, contou.
Almaviva vê fatos isolados em denúncias e diz combater “atitudes assediantes”
Procurada pela reportagem para se manifestar sobre a repercussão da reportagem, a Almaviva disse por meio de nota que assim como toda empresa em seu âmbito de atuação “é geradora de direitos e obrigações que são acompanhados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e também pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Colabora, de forma preventiva e transparente para que o ambiente de trabalho seja mais saudável e produtivo. Isso passa obrigatoriamente pela constante orientação das lideranças da empresa em relação a suas equipes”.
A empresa diz também que “compreende seu trabalho educativo, notadamente no âmbito do primeiro emprego”. Com relação às críticas recebidas de forma geral, a empresa diz que as recebe para conseguir aperfeiçoar sua estrutura e gestão.
“Obviamente elas não representam um padrão, mas fatos isolados que precisam ser apurados e, caso procedentes, tratados. A empresa tem o trabalho como princípio de organização da sociedade e por essa razão provê formação e valoriza as qualidades individuais de seus colaboradores, abrindo as portas do mercado de trabalho para uma significativa parcela da população, especialmente de jovens que invariavelmente ficam à margem da sociedade”, diz a empresa multinacional italiana, em nota.
A Almaviva diz em outro trecho que “a empresa reforça que valoriza a integridade e bem-estar de mais de 6 mil profissionais que compõem a equipe de Maceió (AL) e não admite comportamentos tidos como impróprios, como atitudes assediantes dos gestores. A AlmavivA do Brasil mantém o diálogo aberto e contínuo com seus colaboradores e oferece a eles um canal de ouvidoria interna e permanente, com garantia de sigilo e confidencialidade, para que estes registrem críticas, elogios e sugestões em relação a procedimentos internos e atitudes inadequadas”.
Internautas também defendem Almaviva e negam problemas na empresa
Dos internautas que se mostraram surpresos com a reportagem e as denúncias relatadas, parte defendeu que já ouviu de amigos relatos negativos sobre a Almaviva e outros disseram trabalhar na empresa, mas que nunca viram situações de assédio moral, restrição a consumo de água ou de idas ao banheiro ou outras situações narradas.
Em resposta a outro internauta, Iralldete Lima disse: “Pelo menos eu não tenho nenhum problema lá não, nunca tive e já estou ha 1ano, mas cada um é cada um!! Nunca passei sede e nem peguei infecção por não ir ao banheiro”.
“Trabalho lá a 2 anos e 3 meses e sei que nem tudo é um mar de rosas, porém nesta reportagem não condiz a realidade. Entrei lá como operador e hoje tenho um cargo de gestão de pessoas, quando se fala de atingir metas nunca vi como algo difícil de se conseguir, basta profissionalismo”, escreveu Bruno.
Mas também chamou a atenção a quantidade de pessoas que comentaram na publicação afirmando ter desistido de uma vaga de emprego na empresa por terem ouvido de terceiros comentários negativos. “Graças a Deus que me livrei, só vejo comentários negativos referentes à empresa. Fiz o Processo Seletivo em dezembro de 2015, fui aprovado. Porém acabei desistindo de trabalhar na mesma”, escreveu Thiago Soares.
Classe política silencia diante de denúncias contra a Almaviva
Na última semana, o CadaMinuto Press veiculou com exclusividade denúncias feitas por trabalhadores contra a empresa Almaviva. A reportagem abordou as controversas condições de trabalho na empresa e o desamparo que gestantes alegam sofrer por parte da empresa e do plano de saúde corporativo. A repercussão foi grande e, em se tratando de uma das empresas que mais emprega em Alagoas, autoridade políticas, públicas e sociedade civil foi buscada para se manifestar sobre o assunto.
No entanto, a regra foi o silêncio. O governador Renan Filho (PMDB), o prefeito Rui Palmeira (PSDB), a Secretaria Municipal do Trabalho, Abastecimento e Economia, o presidente da Câmara Municipal de Maceió, Kelmann Vieira (PSDB) e a presidente da OAB/AL Fernanda Marinela foram contatados pela reportagem, mas não se manifestaram sobre os questionamentos.
Apenas Rafael Brito, da Secretaria de Estado do Trabalho e Emprego, Daniel Nunes, da Comissão de Direitos Humanos da OAB/AL, e José Mendonça, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações de Alagoas, falaram sobre as denúncias de trabalhadores da empresa Almaviva.
A reflexão que a reportagem da última edição tentou provocar passa pela compreensão da relevância de uma empresa de telemarketing para qualquer município e estado, principalmente em tempos de crise, quando a recessão e o desemprego aumentam e as opções de arrecadação diminuem. Criar emprego é gerar renda e aquecer a economia local. Mas a qualidade do emprego criado é questão de relevância social, para que sejam evitadas doenças ocupacionais e maior gasto público com saúde e assistencialismo.
Muitas vezes, e este é o caso da Almaviva, empresas são atraídas pelo poder público para se instalar em determinada localidade em face de incentivos fiscais, locacionais e até creditícios que lhes são concedidos, no caso, pela municipalidade e pelo governo estadual. Este incentivo se traduz em renúncia de receita, a empresa deixa de pagar determinados impostos (ou percentuais são diminuídos) para que se instalem e gerem empregos.
Normalmente, a preocupação do poder público se dá unicamente com a quantidade e não com a qualidade deste emprego. E quando há preocupação real de que uma empresa esteja causando danos à saúde de trabalhadores é importante que o poder público aja em defesa dos trabalhadores, que é o mesmo contribuinte, pagador de impostos, que sustenta o poder público. E, se verdadeiras as denúncias de adoecimento desses trabalhadores, haverá uma busca pelo serviço público de saúde, gerando mais gastos públicos.
Por fim, o principal trabalhador de empresas de telemarketing é o jovem, aquele que ainda está em formação e mais vulnerável às doenças psíquicas, que a depender do caso podem gerar danos permanentes. Como os números de emprego relacionados aos “call centers” são sempre centenas e milhares, não é exagero esperar preocupação do poder público quanto à qualidade do emprego gerado.
A situação poderia provocar algo além de uma manifestação à imprensa, que poderia ser incisiva. Mas também no sentido de diligenciar junto à empresa que recebe incentivos fiscais, para que respeite legislação, instrução normativa e todos os direitos humanos e dignidade do trabalhador. Porém, os principais líderes da classe política de Alagoas e de Maceió silenciaram para os graves fatos com os quais contribuíram na origem.
A denúncia
O CadaMinuto Press focou, basicamente, nas condições de trabalho que vêm sendo denunciadas ao Ministério Público do Trabalho (MPT) e que estariam adoecendo os trabalhadores. As doenças, principalmente, estariam relacionadas ao trato urinário, pois, segundos os funcionários, há restrições ao uso do banheiro e ao bebedouro; e psiquiátricas, devido ao assédio moral relativo às pressões que sofridas para que metas sejam alcançadas, inclusive com relatos de agressão verbal de superiores hierárquicos, e ao relacionamento com os clientes finais por telefone que muitas vezes são agressivos com os telefonistas. Além disso, grávidas denunciaram que a previsão de parto no plano de saúde fornecido pela empresa havia sido suspensa.
A empresa Almaviva negou todas as denúncias, inclusive mencionando que menos de 3% de seus empregados buscam a Justiça do Trabalho. Ela está em Maceió desde 2013 e é motivo de orgulho para políticos por causa do número de empregos gerados. Durante estes anos muitas foram as declarações públicas positivas em relação à empresa, mas nenhuma questiona a qualidade do emprego gerado.
Em quase três anos, segundo a própria Almaviva, foram 10 mil os funcionários que passaram por lá. Em geral, são jovens os empregados de empresas de telemarketing, muitos ainda estudantes que buscam o primeiro emprego. Como atendente de telemarketing, o expediente é de seis horas, assim como telefonista, e muitos podem conciliar com os estudos.
Considerado um dos dez trabalhos mais estressantes do país, a atividade de telemarketing ou teleatendimento exige dos trabalhadores calma para conseguir driblar a ira de consumidores e também as pressões dos empregadores.
Na Justiça do Trabalho de Alagoas já são 289 processos por assédio moral, recusa em receber atestados médicos, alteração arbitrária de contrato com plano de saúde, retirando o atendimento de obstetrícia sem justificativa devida, assim como irregularidades em anotações em carteira de trabalho e outras relativas à remuneração e descontos indevidos.
Procurador do Trabalho em Alagoas, Rodrigo Alencar resumiu a situação de empresas de telemarketing no Brasil. Para ele, a Almaviva, assim como todas empresas de telemarketing, é altamente complicada, porque absorve uma mão-de-obra que está no início da vida profissional, e os submete a um ambiente de trabalho complicado e nocivo à saúde.
“O problema maior é que quando você pega um jovem de 18 anos de idade e submete a um ambiente de trabalho doentio, esse jovem acaba desenvolvendo transtornos mentais, pois ele é mais vulnerável e a empresa acaba gerando um transtorno inimaginável”, revelou Rodrigo Alencar.
Para o procurador, as condições de trabalho narradas podem ter reflexos levar a empresa a ser responsável pelo adoecimento de uma massa de jovens alagoanos, o que pode, no futuro, sobrecarregar o sistema de saúde público no estado.
Outra denúncia revelada na reportagem diz respeito ao drama de um grupo de grávidas da empresa que afirmam que houve corte no serviço de parto do plano de saúde oferecido pela empresa.
Procurada pelo CadaMinuto para explicar os questionamentos das gestantes, a Almaviva disse que o plano oferecido a seus operadores possui cobertura para todos os procedimentos de atendimento de urgência, consultas eletivas, exames e procedimentos simples e complexos.
Porém, a empresa afirmou em nota que o plano não cobre o procedimento de obstetrícia (parto). “A empresa esclarece que houve um equívoco por parte do convênio médico na emissão de algumas carteirinhas, que supostamente oferecia esta cobertura. A Almaviva do Brasil lamenta os transtornos causados e está avaliando outros planos para realizar a troca do fornecedor”, diz o trecho final da nota. O plano de saúde não quis comentar o assunto.
Prefeitura não reage diante de denúncias contra maior empregadora de Maceió
A reportagem tentou contato com a Prefeitura de Maceió e com a Secretaria Municipal do Trabalho, Abastecimento e Economia (Semtabes), mas até o fechamento desta edição nenhuma resposta oficial foi encaminhada. Em contato com o secretário municipal de Comunicação, Clayton Santos, este ponderou que o tema não diz respeito ao Poder Executivo.
“A Prefeitura tem um programa de atração/incentivo para a instalação de empresas em Maceió. A Almaviva veio para a cidade com apoio desta ação de incentivo liderada pela Semtabes. Mas a Prefeitura não tem como se pronunciar a respeito das questões internas da empresa, nem o prefeito. Acreditamos que ambas as partes - empregados e empregador - devem ser ouvidos a fim de que os conflitos, uma vez existindo, sejam dirimidos”.
Quando a empresa chegou em Maceió, já respondia a ações judiciais em São Paulo e em Minas Gerais, o que poderia ter despertado preocupação quanto à qualidade dos empregos gerados.
A Semtabes, antes gerida por Solange Jurema e agora por Jurandir Boia, também foi procurada para se manifestar sobre as denúncias contra a Almaviva. A assessoria argumentou que o assunto é da esfera trabalhista e que a secretaria apenas atua junto ao Sine (Sistema Nacional de Emprego) para fazer a ponte entre o trabalhador e a empresa.
A assessoria se comprometeu a levar a demanda para a secretaria e também para a Secretaria Municipal de Comunicação. Mas até o fechamento desta edição tambémnão houve resposta oficial da Semtabes.
Governador também evita comentar denúncias contra Almaviva
Em setembro de 2015, já durante a crise econômica que abala o país, a Almaviva inaugurou mais uma unidade em Maceió gerando mais postos de emprego. Na ocasião, o governador Renan Filho comemorou a abertura de mais postos de trabalho e declarou “é um seguimento muito importante que cresce muito no nordeste. A Almaviva é uma empresa muito forte nesse seguimento no mundo, gera oito mil empregos em Maceió”.
Francesco Renzetti, vice-presidente da Almaviva Brasil, disse naquele momento: “gerenciamos aqui para grandes clientes do Brasil, principalmente do setor das telecomunicações, vários serviços. Podemos dizer que Maceió é a capital do grupo Almaviva”.
Diante de tanta importância que o governador deu à empresa, a reportagem também o procurou, assim como a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico e Turismo, afinal, empresa que recebe incentivos fiscais, deve, no mínimo, respeitar a legislação respectiva, bem como instrução normativa e todos os direitos humanos e a dignidade do trabalhador.
Entretanto, até o fechamento desta edição não houve respostas. A assessoria do governador disse que ele estava viajando e que sua agenda está cheia para atender à reportagem.
Já a assessoria da Sedetur pediu um prazo maior para analisar os termos do contrato de concessão de benefícios fiscais celebrado com a Almaviva, assim como o regimento do Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico e Social de Alagoas (CONEDES/AL), para responder aos questionamentos da reportagem.
Secretário Estadual do Trabalho e Emprego surpreendeu-se com as denúncias
Enquanto a maior parte dos agentes públicos que posaram sorridentes para a foto de inauguração da Almaviva calaram diante das acusações de funcionários, o secretário do Trabalho e Emprego de Alagoas, Rafael Brito, revelou preocupação com as denúncias publicadas no CadaMinuto Press. Disse que tinha ouvido falar em casos pontuais, mas que nas vezes em que esteve na empresa viu empregados satisfeitos e casos de progressão no emprego.
No entanto, Brito não diminuiu as denúncias e enfatizou a importância da apuração pelos órgãos competentes.
“O Ministério Público do Trabalho e o Ministério do Trabalho, através dos auditores, têm que apurar as denúncias. Não cabe à gente apurar, a função de fiscalização é deles. E nos avisar se algo estiver acontecendo de forma errada, para que a gente tome as medidas necessárias”, pontuou o secretário.
Para ele, o caso das gestantes é o que mais choca, mas tudo deve ser apurado e a Justiça do Trabalho deve decidir sobre a responsabilidade da empresa quanto a todas as denúncias. Brito ainda disse que não pode avaliar a questão da suposta massa de jovens doentes, pois a empresa – em sua defesa – alegou que cerca de 3% de seus trabalhadores procuram a Justiça do Trabalho e que esta margem está dentro do aceitável.
Em princípio, o secretário concordou com a margem aceitável, mas reafirmou a importância de apuração de todas as denúncias para que só então a secretaria possa adotar quaisquer medidas. E finalizou afirmando que o fato de haver ações judiciais contra a empresa não significa que haja culpa, que é necessário que a empresa se defenda e que a Justiça julgue para saber o que existe realmente nisso tudo.
A reportagem entrou em contato com a assessoria dos auditores fiscais do Ministério do Trabalho, mas estes preferiram não se manifestar, pois a empresa Almaviva ainda está passando por processo de fiscalização e os auditores estão em greve. Assegurando que no momento adequedo poderá se manifestar sobre as denúncias dos trabalhadores.
Sinttel confirma denúncias e afirma que medidas precisam ser adotadas
O Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações em Alagoas (Sinttel/AL) tem representado os trabalhadores de teleatendimento, os chamados “call centers”, em Alagoas. José Mendonça, presidente do Sinteel, disse que o sindicato já fez várias denúncias quanto às condições de trabalho na empresa Almaviva, mas esta sempre nega tais ocorrências.
“A empresa nega, mas há sim. Não é um ou outro funcionário que reclama e fala aquelas coisas que estão na reportagem, são muitos. Então, há sim”, afirmou convicto o representante dos operadores de telemarketing. Mendonça afirmou ainda que há uma audiência agendada na Procuradoria Regional do Trabalho (PRT) e que, na ocasião espera que esta situação se resolva, pois, para ele, os trabalhadores não podem continuar sofrendo assim.
Outra fonte do Sinteel, que preferiu não se identificar, afirmou que além das denúncias feitas pelos trabalhadores, relacionadas a doenças ocupacionais, há ainda problemas relacionados ao descumprimento de acordos coletivos, valores pagos a título de vale-refeição e ainda a habitual utilização de mão-de-obra por mais de vinte dias sem a devida notação na carteira de trabalho e os respectivos pagamentos.
Comissão de Direitos Humanos da OAB/AL vê problema trabalhista
Daniel Nunes, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/AL disse que, em princípio, não acha que se trata de tema a ser abordado pelos Direitos Humanos. Para o advogado, apesar da gravidade das denúncias, o tema é de competência das áreas pautadas pelas relações de trabalho.
“Nas redes privadas de grandes estabelecimentos, sempre tem essas coisas, é mais um assunto para sindicalistas do que propriamente para os Direitos Humanos”, afirmou. No entanto, diante do argumento de que proibir acesso ao banheiro e ao bebedouro ferem a dignidade da pessoa do trabalhador, Nunes concordou que se trata de tema relacionado aos direitos humanos, mas que outras áreas da sociedade civil poderiam opinar com mais propriedade sobre o tema.
O advogado reconheceu que as práticas apontadas por trabalhadores têm sido cada vez mais comuns na administração moderna e ainda mencionou o caso de bancários. “É uma política sistemática de exploração de mão-de-obra, desumana, baseado nesses manuais de administração”. Para ele, a situação poderia ser corrigida com políticas negociadas, para que sejam adotadas medidas mais humanas. “O que é possível”, disse.
“Embora não seja uma área que tenhamos atuação, consideramos que sejam violações aos direitos humanos, e numa área que tende a crescer em Maceió. É importante a vinda desses empregos, mas lógico que esses empregos têm que ter dignidade, claro que condenamos”, finalizou.
A reportagem também contatou a presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas, mas Fernanda Marinela achou conveniente a manifestação da comissão de Direitos Humanos sobre a situação, abstendo-se de comentar o assunto. A OAB é porta-voz da sociedade civil brasileira, como diz o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Brito.