O sentimento de recomeçar depois de um desastre natural foi intenso nos moradores que tiveram suas residências arrastadas na enchente de 2010, que destruiu 19 municípios alagoanos. Mesmo próximo de completar seis anos da tragédia, que marcou a vida da população alagoana e mobilizou a sociedade, milhares de moradias construídas dentro do Programa da Reconstrução ainda não foram entregues.
Na época da tragédia, o Governo Federal destinou ao todo, R$ 1 bilhão 254 milhões para o Estado, dentro do chamado Programa de Reconstrução. As cidades contempladas pelo programa foram: União dos Palmares, Matriz do Camaragibe, Rio Largo, Satuba, Ibateguara, Jacuípe, Branquinha, Joaquim Gomes, São José da Laje, Murici, Viçosa, Cajueiro, Capela, Atalaia, Jundiá, Paulo Jacinto, Quebrangulo, Santana do Mundaú, São Luis do Quitunde.
São problemas pontuais que atrasam o recomeço da vida de milhares de famílias. Mas enquanto isso não acontece, elas vivem ao relento em busca da sua casa própria. No município de Ibateguara, dezenas de famílias estão morando de aluguel enquanto os imóveis com quase 80% de construção permanecem abandonados no distrito de Canastra.
Nesta localidade, muitos já desistiram de continuar na cidade e buscaram outros municípios para conviverem com seus familiares. Quem não tem condições de sair da cidade, fica pedindo doações para conseguir comprar um terreno e construir um imóvel.
Uma moradora, que prefere manter-se no anonimato para não ser prejudicada no cadastro para receber as casas, relembra que na época da enchente ela já morava de forma improvisada em “puxadinho” construído nos fundo da residência da filha, localizada às margens do rio.
Com a enchente, a casa da filha ficou totalmente destruída e as duas ficaram desabrigadas. “A minha filha hoje mora em outro lugar, mas eu vivo em uma casa de aluguel que não posso pagar. Quem paga é a minha mãe com a aposentadoria dela. Eu iria morar naquelas casas do jeito que elas estão. Nós já chegamos até invadir, pois não temos condições de viver assim, mas a polícia veio e retirou todo mundo”, disse a dona de casa.
O abandono das obras é denunciado pelo vereador de Ibateguara, Sandro Veloso. “A situação aqui é de total abandono. As obras estão paralisadas e as pessoas continuam morando de aluguel, mesmo sem poder arcar com esse custo, pois o município não oferece nem o Estado”, relatou.
Segundo o vereador, a comunidade de Canastra é muito carente e a demora para entregar as casas tem aumentado ainda mais as dificuldades. Até mesmo as famílias já contempladas pelos imóveis passam por dificuldades estruturais com o funcionamento do sistema de esgotamento sanitário, com vias de acesso aos conjuntos e com a disponibilidade dos aparelhos sociais - escola, postos de saúde e segurança.
Líder de comissão que fiscalizou Reconstrução não evitou atraso em seu reduto
O deputado federal João Henrique Caldas, o JHC (PSB) coordenou a comissão de fiscalização das obras do Programa da Reconstrução, enquanto atuava na Assembleia Legislativa de Alagoas, e afirmou que solicitou o levantamento de dados sobre as condições das residências construídas no estado para contemplar as vítimas da enchente. Herdeiro do reduto político da família Caldas, em Ibateguara, JHC afirma ainda que o atraso causa uma preocupação muito grande, pois muitas obras estão paralisadas e outras apresentam problemas estruturais.
“Nós temos conhecimento de que muitos residenciais entregues estão com graves problemas e em situações precárias. Por isso pedi um levantamento com essas informações para apresentar ao Ministério das Cidades. Existem conjuntos com problemas sérios de esgotamento sanitário. Outros a pavimentação das ruas cedeu e criou verdadeiras crateras”, afirmou o parlamentar.
Ele lembra que o município de Ibateguara foi o último a ser contemplado com a construção dos imóveis por não ter tido um número significativo de desabrigados. “Na época até mesmo comentei que essas casas seria deixadas para o governante do estado. Estamos cobrando dos responsáveis posições sobre a celeridade dessa obra e sou cobrado também pela população quando visito a comunidade”.
No caso de Ibateguara, a secretária de Infraestrutura do Estado (Seinfra), Maria Aparecida, afirmou que são 99 casas com atraso na entrega devido a um problema no esgotamento sanitário.
“Nós já garantimos a verba e vamos agora passar pelo processo licitatório para executar essa obra. Vou buscar informações junto a Caixa Econômica para saber sobre essa paralisação na construção”, acrescentou Aparecida.
Segundo ela, até o final deste mês, a equipe da Seinfra deverá realizar uma visita ao povoado de Canastra, em Ibateguara para conhecer o andamento das obras. Até o fechamento desta matéria, a reportagem do CadaMinuto Press não conseguiu contato com o prefeito do município de Ibateguara, Geo Cruz.
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