E não pensei que um simples questionamento fosse gerar tanta polêmica e ataques e ofensas pessoais a este aprendiz de blogueiro, teimoso professor e singelo advogado. De idiota, hipócrita, pseudo-advogado, mercenário, advogado de bandido, doutor do ABC (querendo menosprezar minha titulação na Itália) etc. fui chamado aqui no blogue ( e liberei todos os comentários desatenciosos e agressivos) e nas redes sociais.

Mereci, segundo o pensamento dominante, um puxão de orelhas, daqueles que se dá em “menino reinão”, da minha querida amiga Dulce Melo, a quem tenho apreço e carinho profundos, achando que havia diminuído a tropa ao me referir ao vocábulo “puliça” e não polícia.

Mais adiante explico o porquê.

Creio que tudo baseado, na minha singela visão, de uma falsa polêmica, ou na tentativa, ainda que de forma de ataque, ou revide, de justificar os confrontos e as mortes havidas ultimamente em algumas operações policiais.

Recebi, ainda, do amigo e policial Vasco telefonema onde relatava ter um companheiro policial sido baleado e que me cobrara que eu postasse isso no blogue como maneira de justificar aquilo que para mim precisa de maior reflexão: a violência! A primeira coisa que retruquei no telefone foi saber se ele estava bem e se corria risco de morte. A resposta positiva à primeira pergunta e negativa à segunda me tranqüilizaram, mas confesso que me reacendeu a necessidade de falar sobre esta danada violência que nos aplaca!

Lamento ter que postar que um companheiro policial foi ferido e lamento ter que postar que pessoas são mortas, ao invés de presas, quando de uma operação policial. Infelizmente ainda acredito na humanidade e na humanização das pessoas, sem nenhum medo de parecer ingênuo ou piegas. Não temo por aquilo que ainda me dou a liberdade de pensar.

Mas antes de entrar de vez na referida “falsa polêmica” quero deixar algumas premissas claras. A primeira é que tenho profundo apreço a todos os homens e mulheres que trabalham na área de segurança pública do Estado de Alagoas.

Para quem não sabe, sou casado com uma policial civil. Em segundo lugar é que o nosso blogue em momento algum atacou a honra e a dignidade dos policiais, mas, de alguma forma questionou o porquê de tantos confrontos com resultado morte de civis, inclua-se aí um agente penitenciário que também é membro da estrutura da segurança pública.

Já havia alertado ao Sindpol, onde sou advogado há mais de 10 anos, defendendo policiais civis que são presos e processados por algo que, no momento lhes “autorizam” a fazer, mas que lá na frente dizem que não era bem assim e que eles fizeram “tudo fora da lei”, que as coisas podiam sobrar para os “pequenos”.

E quem são os pequenos? Os agentes de polícia. Foi assim no caso José Joaquim, onde acusaram mais de 12 policiais civis de tortura e assassinato – (conseguimos absolver 08 deles e 04 companheiros policiais estão correndo o risco de perder o emprego depois de a condenação ser confirmada pelo TJAL, falta ainda o recurso ao STJ/STF que já fizemos) foi assim na chacina do Solaris (onde só os agentes de polícia sentaram no banco dos réus e conseguimos a absolvição de todos depois de muito trabalho – nenhum delegado, nenhum secretário sentou no banco dos réus), foi assim na absurda acusação do Ministério Público quando os agentes estavam a serviço em um cinema de Maceió e foram ao escárnio popular (e depois todos processados criminalmente) porque disseram que eles queriam entrar de graça para lazer pessoal (conseguimos absolvê-los também); tem sido assim com fuga de presos em delegacias onde não há a menor condição de trabalho e mesmo assim são processados quando um preso foge; enfim, são mais de 200 policiais processados criminalmente por agirem, por vezes, no ímpeto de se fazer aquilo que a sociedade clama: “acabar com os bandidos”.

E no final o resultado é um só. Policiais, leia-se, agentes de polícia, no banco dos réus.

No post também ironizei a falta de equipamentos e preparo dado pelo aparato estatal - e ali não coloquei a culpa em nenhum governante atual -, aos policiais que muitas vezes usam coletes vencidos, armas precárias e falta de treinamento contínuo.Minha esposa mesmo só participou de treinamentos operacionais na academia de polícia quando foi aprovada no concurso há mais de dez anos, onde manejou arma etc. Depois disso, NUNCA MAIS! Embora saiba que ela é boa de mira e de pontaria (coisa que eu não arrisco testar em casa! – hehehe).

Quando usei o vocábulo “puliça” não me referia aos policiais, mas a forma corriqueira e coloquial como se utiliza o jargão popular em uma referência, até jocosa, para falar do respeito ao aparato de segurança. Só isso. Talvez a necessidade cada vez mais absurda do politicamente correto esteja deixando as pessoas mais chatas, irritadiças. Se algum policial assim se sentiu, deixo aqui as minhas escusas pessoais.

Sei da abnegação e da luta daqueles que  compõem a força policial do Estado, tanto é que dou palestras, participo de cursos de formação de agentes e delegados, recentemente fui a uma banca TCC da PMAL como avaliador, e o faço tudo isso sem cobrar NENHUM CENTAVO, com muita honra e prazer, logo a pecha de que estaria criticando as mortes porque não estava sobrando clientes é, além de absurda, desrespeitosa, inaceitável e, para mim não violenta só a minha integridade moral e profissional, mas a minha idoneidade como cidadão que sou e que contribui de forma proativa para o desenvolvimento da mão de obra do aparato policial.

Por fim, quero sim enfatizar que a questão da violência precisa de muita reflexão, pois se o recado do Estado for de mais violência, a resposta não será outra senão, muito mais violência ainda, e este foi o cerne de tudo que ali estava posto.

Continuo, como sempre continuarei, a me posicionar, pois a liberdade de expressão é  um valor que a intolerância reinante ainda não conseguiu matar, embora tenha tentado sempre calar àqueles que questionam, refletem e procuram viver em uma sociedade de seres humanos, com todos os seus defeitos e acertos.

Tenham uma boa semana.