Ele estava enfurecido. Dava para ouvir os gritos deseperados e tresloucados do imperador de dentro de seu suntuoso palácio. "Traidores, traidores, traidores, traidores", bradava o augusto Czar tupiniquim.
Imediatamente ordenou que outra lei fosse feita para ser votada imediatamente, fosse como fosse aquilo não ia ficar assim. Fez alguns contatos, ameaçou revelar o que sabia, disse que ia cortar as mordomias e finalmente acabou arrebanhando os votos necessários em menos de duas horas.
"Ave, Cunha, morituri te salutant" saudou em um latim arcaico o jovem parlamentar alagoano que havia traído o Czar no primeiro momento. Seguiram com a mesma saudação outros parlamentares de outros rincões do império tupiniquim.
Depois de ficarem de joelhos foram autorizados a se levantar.
Cada um recebeu um esculacho do tamanho do rombo da dívida da Grécia e sairam de lá jurando amores ao Czar. Desculparam-se, imploraram perdão e foram autorizados a se retirar. Estariam monitorados. De perto.
Mudariam o voto. Pronto.
O imperador não poderia sair desmoralizado, ainda mais pela rafameia estudantil que o havia insultado horas atrás. Esses pivetes iam pagar cada ousadia e gracejo.
Cadeia neles!
Dito e feito!
Tudo pronto para a nova votação em menos de 24 horas. Cenário novo, traidores alinhados... a coisa seria outra.
Com um sorriso sagaz e mortal ele esfregou as mãos e contabilizou a vitória sugando de cada um aquilo que lhe deviam. Por cima de tudo, por cima de todos e das carcomidas regras regimentais que só serviam para a moça da copa e para o flanelinha das bigas do império. Para mais ninguém.
Lei, ora a lei. Na Cunhalândia a lei era o do imperador. e de mais ninguém mesmo.
Feliz, sorriu e preparou o próximo passo para sua consagração eterna.
Restaurar a escravidão!
AVE, CUNHA!