Nasci em osasco,sp ( letras minúsculas propositais), filho e neto de Paraibanos (a maiúscula agora também) tinha tudo para amar o rincão “evoluído” do Brasil. Todavia, reputo um acidente de percurso geográfico o meu nascimento. E dos grandes. De alma Nordestina em terras bandeirantes fui criado como sendo o filho do “Paraíba”, apelido “carinhoso” dado a meu pai pelos gentis paulistanos.
Meus avós paternos e maternos, como tantos outros sertanejos, fugiram da seca dos anos 40-50 para buscar o Canaã prometido. Doce ilusão. Vida dura, trabalho quase escravo e a comida pouca na mesa para o sustento dos filhos era tudo que podiam prover. Mas lutaram bravamente com dignidade para se manter na pauliceia desvairada. Conseguiram e morreram por lá. O sonho de voltar à terra natal para fincar moradia definitiva e curtir o luar do sertão não foi realizado.
Meus pais lá ainda estão, por vontade própria. Adaptaram-se como lunáticos àquele lugar. Os “paraíbas” demoram a perceber a rejeição. Enxergam com algum carinho os epítetos graciosos e riem de seu próprio sotaque nordestinês sem se aperceberem o quanto de “mangação” tem em tudo isso. Fiz o caminho inverso. Talvez em homenagem aos meus avós, ou a mim mesmo. Sempre digo em palestras ou por onde ando que meu maior defeito é não ter nascido no Nordeste, em Alagoas precisamente. Corrigi este erro gerando três rebentos por aqui. Um ainda escapou e nasceu pelas bandas de lá.
Tempo de eleições, eis que o velho preconceito disfarçado de gracejo volta a atacar nas redes sociais. E vindo dos bem (ou nem tanto assim) nascidos de são paulo (minúsculas vingativas) porque, nós, NORDESTINOS, escolhemos, em retumbante votação, Dilma Rousseff como nossa opção presidencial. O imperador Fernando Henrique Cardoso, do alto de sua soberba, pompa e idiotice apressou-se logo a dar mais carga pejorativa e incendiou de vez o debate. Afirmou categoricamente que quem vota em Dilma Rousseff ou é pobre que vive nos grotões ou é mal informado.
Estarrecido, mas não surpreso com o acinte, o filho do Paraíba aqui já aguardava o “carinho” vindo de quem veio. Em resposta, ou em homenagem ao Presidente dos miseráveis, pois deixou um legado de mais de 40 milhões em sua passagem pelo governo federal, abro o site americano Washington Post, e leio em letras americanas e bem informadas: “Brazil removed from UN World Hunger Map” (Brasil sai do Mapa da Fome das Nações Unidas - tradução livre).
Feito histórico comandado pelo Nordestino Pernambucano Lula.
Xeque-Mate.
*texto publicado no jornal A GAZETA na coluna OPINIÃO em 08.10.2014 (dia do nordestino)que ora trago para o blogue.