"Precisamos mudar, ou os pobres vão mandar no mundo". A frase lançada pela eleitora tucana Ione Zukauskas, ao declarar apoio ao presidenciável Aécio Neves, de estirpe e nome pomposo, por mais que se negue a existente guerra fria (ou nem tanto) de classes econômico-sociais no atual quadro do país, é estarrecedora. 

Volto à minha infância e lembro de meu pai sentado à mesa nos contando passagens de violência e miséria sofrida por ele. Relatos crueis que nos faziam passar medo e angústia e reverenciar a hora da refeição como a mais importante do dia, agradecendo sempre, pelo alimento, qualquer que fosse, que estivesse na mesa. 

Hoje, anos mais tarde, e depois de minha revolução pessoal através dos estudos, vejo-me no meio dessa elite que ainda acha que pobreza é defeito ou vírus contagioso.

A minha ascensão se deu por critérios meramente matemáticos, sociologica e principiologicamente ainda me pego enraizado às minhas origens. E sou grato por isso. 

Confesso que sinto, por milhares de dezenas de vezes, asco em estar entre este tipo de gente, saber que meus filhos estão tendo contato com a elite preconceituosa onde os valores são subvertidos em quantidade de coisas que o vil metal ainda compra, saber que as marcas e os sobrenomes ainda são critérios de divisão de importância social, me incomoda profundamente.

Por outro lado, confesso também que tento absorver os efeitos nefastos disso, embora o trabalho seja redobrado com os valores que influenciam meus filhos em face do ambiente, por vezes elitista demais, que os cerca.

Tratar as pessoas com dignidade sejam pobres, ricos, miseráveis ou bilionários é pressuposto. Não olhar sobrenomes, mas aplaudir atitudes é algo que persigo sempre. Ser independente tem um preço alto. E costumo bancar o custo de tudo isso.

Se os pobres vão mandar no mundo dos bem nascidos isso eu não sei. Até acredito que sim, e por isso votarei no dia 05/10/2014, acreditando nas mudanças que revolucionaram este país nos últimos 12 anos e ainda vão mudar mais. 

Por isso procuro resgatar cada sopro de pobreza meramente matemática para que o mundo esteja rodeado não de quantidade de cifras, mas de pessoas normais que vivem suas realidades amando, sentindo, solidarizando-se, compartilhando e vivendo em um lugar onde o sentimento de fraternidade seja mais importante do que o valor da conta bancária.

Pode parecer meio ingênuo tudo isso, ou piegas na visão de alguns, mas sou crédulo de que sonhos não envelhecem.

E por eles sou capaz de tudo.