Desde a campanha pela redemocratização do Brasil, não é novidade para ninguém a presença de artistas na atividade política. Com o avanço da democracia eles iniciaram a busca pela ocupação de cargos eletivos, em defesa dos interesses da classe artística.

Mas o que faria um cantor de axé de uma banda da Bahia na Assembleia Legislativa de Alagoas? O blog buscou estas informações, conversando com o vocalista Kinho, da banda O Rodo da Bahia, que disputa um mandato de deputado estadual pelo PTdoB de Alagoas.

Marcos Santos Neves,  o “Kinho do Rodo”, tem 36 anos, nasceu em Salvador-BA e é casado com uma alagoana, que conheceu graças ao sucesso de sua banda com o hit “Senta aqui no colinho do papai”. Kinho mora em Maceió há sete anos e sua terceira filha é alagoana.

Cadeirante, o soteropolitano encontrou na música um caminho para extravasar a alegria que mantinha o sorriso em seu rosto, enquanto superava cerca de 400 fraturas nas pernas durante a infância e adolescência. Ele tem osteogênese imperfeita, enfermidade de origem genética popularmente chamada de “doença dos ossos de vidro”. Sua filha alagoana também sofre, em menor grau.

A energia de sua voz e suas danças sobre a cadeira de rodas, no palco, impressionaram primeiramente o público jovem de Sergipe, onde “estourou”, antes de fazer sucesso em sua terra natal e em outros estados do Brasil. 

Assista uma das apresentações em que O Rodo da Bahia canta seu hit:

Por melhores serviços públicos para deficientes e músicos

Quem enxergou que seu carisma tinha potencial eleitoral foi a deputada federal alagoana Roseane Cavalcante, a “Rosinha da Adefal” (PTdoB), que o convidou para disputar uma vaga na Assembleia, que já possui uma deputada cadeirante, Thaíse Guedes (PSC), desde 2011.

Seus objetivos são bem específicos: lutar por políticas públicas que garantam os direitos dos músicos e das pessoas com deficiência.

“Minha luta é a favor dos músicos, dos cadeirantes, idosos e dos menos favorecidos. É a favor das pessoas que não têm condições de ter uma vida melhor. Já fui muito antendido pelo SUS, chegava de oito da manhã e saía de duas da tarde. Passei minha infância toda quebrando a perna. Já tive duas fraturas num dia. Sou um cara de lutar pelos meus objetivos. E como já lutei muito por mim, chegou a hora de lutar pelos outros, pelos menos favorecidos", disse Kinho, ao justificar sua candidatura.

O cantor com timbre parecido com os grandes astros do axé como Xandy e Beto Jamaica, de quem é amigo, afirma que o músico está sofrendo muito com a falta de um representante que lute por políticas públicas e uma legislação que os beneficie.

"Não tem uma coisa na lei que proteja os músicos. Até as pessoas que fazem programa têm quem lute pelos direitos delas. Somos artistas e não temos nada de incentivo. Quem não está na mídia sofre muito. Em Alagoas, o que os jovens precisam é de um projeto que ensine música, dança e canto de graça”, disse o candidato que tem o ensino médio e deseja fazer uma faculdade.  

Durante a campanha, Kinho disse que continuará fazendo shows, sem pedir votos no palco por conta da proibição da legislação eleitoral. “Tenho que fazer porque ainda tenho músicos que precisam de mim e eu não sou um candidato rico que vai montar grande estrutura”, explica.

O candidato que defende o voto consciente começou a cantar em bares de Salvador, ainda na adolescência, com um repertório que incluía MPB, samba e as canções do alagoano Djavan, de quem é fã. Seu jingle de campanha deve ser baseado em uma versão do hit “Senta aqui, no colinho de papai”.

“Vou pedir votos às pessoas com a cara e a coragem. E sou contra a compra de votos. Até parentes meus já perguntaram quanto ganharia se votasse em mim. Respondi que, se depender de mim, não vai ganhar nada. Mas vai ganhar o meu trabalho. Quem compra voto não deve nada ao eleitor. E quem vendeu não tem direito de cobrar nada. Se for reclamar que na rua tem um buraco, o cara vai dizer: ‘Já comprei seu voto, se saia!’ ou vai dar é risada”, defendeu Kinho do Rodo.

Artistas em busca de representação

Além de Kinho do Rodo, alguns outros candidatos parecem buscar representação para a categoria na Assembleia Legislativa. O músico da banda Cheiro de Calcinha e cineasta pornô Anivaldo Luiz da Silva, o “Lobão” (PSB) é um deles. O ex-deputado estadual Alves Correia (PTB) é radialista e também faz shows como cantor, com sua banda e “as bundudas”. E João Honorato, conhecido no Centro pelas performances como sósia do cantor Roberto Carlos vai disputar o mandato com o nome do ídolo, pelo PPS.

O bom humor também tem espaço na disputa. O partido da presidente Dilma Rousseff trará  o fiscal Genauro do Nascimento disputando mandato na Assembleia como “Tiririka das Alagoas” (PT). João Sílvio Pontes vai em busca de votos como “Kiko” (PDT), personagem do Chaves. E ainda tem os candidatos com nomes curiosos como Peito de pombo (PSDC) e Urêia-lá (PPL), como opção para a Assembleia.

Na Câmara Federal, a classe artística vai para a disputa com Palhaço Pirulito (PSDB), Fátima Cantora (PMDB), Luciana Lima Cantora (PP) e a artesã Lígia do Pontal (PSB).