Celulares com recursos de Internet de quarta geração (4G) vendidos desde o ano passado no Brasil terão funcionalidade limitada quando o sinal de 700 MHz entrar em operação até 2016, já que não são compatíveis com essa frequência.
Os celulares 4G vendidos atualmente no país operam na frequência de 2,5 GHz, leiloada às operadoras em 2012 e cujas antenas foram instaladas em grandes cidades. Assim, os recursos 4G de celulares atuais não funcionarão nas cidades onde só houver a frequência de 700 MHz, disseram especialistas da indústria.
Para executivos do setor, isso não chega a preocupar, pois os usuários costumam trocar de celular de dois em dois anos. Mas com aparelhos sendo vendidos a preços superiores a 2 mil reais a mudança tem preocupado entidades de defesa do consumidor.
"Enviamos um ofício questionando a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) sobre os primeiros passos do 4G no Brasil", disse a coordenadora da organização de defesa do consumidor Proteste, Maria Inês Dulce. "Ao mudar a tecnologia, o consumidor ainda não foi informado que terá que mudar de aparelho", disse.
O leilão da faixa de 700 MHz está previsto para agosto e a nova frequência entrará em operação até 2016, segundo fontes da indústria. Adotada para o 4G em países como Japão, Austrália, China, Índia e México, a frequência de 700 MHz tem maior alcance, enquanto o custo de instalação de antenas é menor em relação à faixa de 2,5 GHz, disse Wilson Cardoso, diretor de tecnologia da Nokia para América Latina.
"Ainda este ano devem ser lançados de 20 a 40 aparelhos de celular diferentes disponíveis em 700 MHz", disse o executivo.
Segundo ele, as operadoras devem migrar grande parte de seus investimentos em 4G para 700 MHz, porque a frequência também tem maior qualidade de cobertura interna e as obrigações de cobertura impostas pela Anatel poderão ser cumpridas de forma integrada às do leilão de 2,5 GHz. "Imaginamos que grande parte do dinheiro (das operadoras) será canalizado para os 700 MHz", disse.
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A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) leiloou as licenças para as operadoras ofertarem internet móvel 4G no país em 2012. Houve várias matérias sobre o assunto, no entanto, pouco foi falado sobre as consequências da implementação do 4G no Brasil e como esta nova tecnologia pode afetar o bolso e a conexão dos usuários. O UOL Tecnologia preparou um guia com perguntas e respostas sobre o que é 4G e o que os brasileiros podem esperar da tecnologia que promete velocidade ultrarrápida de internet Arte UOL
Fim da TV analógica
A frequência de 700 MHz não foi escolhida inicialmente para o 4G no Brasil porque estava ocupada por canais da TV aberta analógica, disse Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco. Segundo ele, o processo de liberação da faixa é complexo e a intenção do governo federal era lançar a banda larga móvel antes da Copa do Mundo.
As quatro principais operadoras móveis do Brasil cumpriram meta estabelecida pela Anatel de oferecer 4G nas cidades-sedes e subsedes da Copa do Mundo até dezembro de 2013. A cobertura está sendo desde então ampliada a outras cidades.
A Vivo oferece serviço 4G em 94 cidades, enquanto a Claro está presente em 86 cidades. A Oi tem 4G em 45 cidades, assim como a TIM.
A Sony Mobile do Brasil é uma das fabricantes que ainda não tem aparelhos compatíveis com 700 MHz. "Os próximos lançamentos com certeza trarão novidades no quesito de conexão", disse Ana Peretti, diretora de marketing da empresa. Ela completou que haverá lançamentos este ano com "experiência de conexão avançada".
De acordo com uma fonte da Anatel, a frequência de 700 MHz não vai substituir a de 2,5 GHz, mas complementar a frequência anterior. "A faixa de 2,5 GHz carrega melhor os dados e, a de 700 MHz, tem maior cobertura", disse a fonte.
Esse interlocutor disse não acreditar que haverá problemas para os usuários que têm aparelhos compatíveis apenas com 2,5 GHz, após a faixa de 700 MHz entrar em funcionamento. Segundo a fonte, o 2,5 GHz vai continuar tendo obrigações de investimentos em infraestrutura de rede por parte das operadoras.
A avaliação da fonte da Anatel é de que as cidades que já operam com 2,5 GHz, em geral as maiores do país, continuarão com o serviço e também terão a oferta de 700 MHz, enquanto os municípios com menos de 100 mil habitantes, que ainda não têm 4G, devem ser atendidas diretamente pelo 700 MHz.
Para outra fonte da agência, quando o serviço de 700 MHz entrar em vigor em meados do ano que vem, boa parte dos usuários de 4G já deverá ter trocado seus aparelhos.
Mercado de crescimento
A previsão de especialistas é de que a participação de celulares 4G crescerá dentro da venda total de smartphones.
Em 2013, do total de celulares inteligentes vendidos no Brasil (35,6 milhões), 10 por cento foram aparelhos com recursos 4G, segundo a consultoria IDC. A empresa de pesquisa ressalvou, porém, que apenas 2 ou 3 por cento dessa fatia tinha plano 4G ativado nas operadoras.
A projeção da consultoria é que este ano a venda de smartphones suba 30 por cento no Brasil, enquanto a participação dos aparelhos 4G deverá passar de 10 para até 20 por cento, disse Leonardo Munin, analista de mercado da IDC.
"O crescimento do 4G é satisfatório, mas só vai decolar daqui a uns dois anos, pois ainda precisamos de cobertura e infraestrutura melhor", disse o analista.