CARTA AO DAVI 

Querido amigo Davi. Permita-me a intimidade de assim chamá-lo, embora não nos 
tenhamos conhecido. O que para mim foi uma pena. Pelo que pude aprender neste 
processo você era um cara especial. Um cara muito amado e bem quisto por todos. 
Todos que te conheceram de alguma forma têm um pedaço bom de você guardado e 
foi nisso que me apeguei para me intrometer um pouco na sua vida para tentar buscar 
uma reparação à sua morte. Nestes últimos nove anos de muita luta e agonias, uma 
verdadeira luta de Davi contra Golias, nós tentamos honrar a sua passagem por este 
mundo. Foi e está sendo muito difícil. Tentamos fazer a justiça que ainda acreditamos 
e que está longe daquela que sonhamos. 

Por anos a fio seu nome esteve estampado em minhas petições, em meus singelos 
manuscritos, em minha voz rouca e embargada nos tribunais da vida, tentando levar 
um pouco de esperança àqueles que ficaram órfãos de você. Órfãos da sua alegria, da sua convivência singela, das suas brincadeiras, da sua juventude, afinal foram apenas 18 anos!

Os órfãos estão todos aqui hoje: Pais, irmã, amigos, familiares, os torcedores do seu querido CSA. E ainda se perguntam: por que te assassinaram com tamanha covardia e futilidade? Essa pergunta, meu amigo, eu também não sei responder. Mas mesmo sem resposta estamos todos aqui. 

Seus pais, Valéria e Lula, e sobre eles, deixe-me abrir um parênteses pequeno, mas 
substancial.

Que pais!

Que pessoas maravilhosas você me deu a oportunidade de 
conhecer. Estar ao lado de seres humanos simples, honrados, dignos, guerreiros, foi 
uma dádiva. Obrigado, meu amigo, e parabéns, eles sempre falam de você com 
orgulho e o brilho nos olhos. Sua irmã, uma arquiteta de mão cheia sentiu a sua falta 
na formatura dela, mas tenho certeza que te carrega nos braços e desenhará cada 
traço de seus projetos lembrando-se da sua leveza, da sua amizade e de seu amor. 

Seus amigos, sinceramente ao vê—los todos aqui hoje vestindo como uma segunda 
pele seu nome e tendo seu rosto simpático estampado neles são exemplos de que 
amigos são jóias raras, são sementes germinadas em um solo de bem querer infinito. E eles, mesmo depois de nove anos, deixaram as suas vidas, os seus interesses pessoais, para hoje lhe homenagear com a presença e, mesmo que emudecidos, clamar por um pouco de conforto, um pouco de carinho, um pouco de compreensão, um pouco de coragem através de um ato de justiça. Seus amigos passam desde agora a integrar o meu rol seleto de amigos.

Agradeço também por isso. Obrigado, Davi. 

Sei que de alguma forma encontrarei você, meu amigo!

Nem que seja através do seu saudável e guerreiro coração que hoje bate em outra pessoa, nos seus rins que hoje filtram as mazelas desta sociedade doente que de uma hora para outra achou certo e justificável matar seu semelhante, ainda que pudesse trazer a injustificável justificativa de que tudo não passou de uma brincadeira, de um acidente, de algo menor,sem muita importância. Ainda verei seu carinho ao olhar seus olhos que hoje dão luz a outras pessoas.

Por tudo isso, meu amigo, levanto minha rouca voz, mais uma vez, ainda que tímida e, talvez nesta hora embargada, para dizer que hoje somos um exército de amigos, parentes, liderados por seus pais e irmã a pedir que a justiça seja feita. 

Obrigado, Davi Hora, pelo tudo que você foi e continuará sendo para todos aqueles 
que carregam um pouco de você dentro deles, obrigado por ter sido um filho especial 
na vida da Valéria e do Lula, um irmão amigo na vida da sua irmã, e um cara sem 
tamanho na imensidão de pessoas que tiveram o prazer de conviver ao seu lado, ainda que por pouco mais de dezoito anos

A saudade dá espaço e preenche o vazio neste momento. Até um dia.

Seu advogado. 
Welton Roberto.

 

P.S.  Esta carta foi lida em plenário do julgamento do Tribunal do Júri no dia 30 de maio de 2014 em São Miguel dos Campos, Alagoas. Logo após os jurados decidiriam que Davi morreu de um tiro dado por uma pistola que pertencia ao assassino, mas que NINGUÉM teria atirado nele.

A luta de Davi contra Golias continua...