Semana passada participei de um evento acadêmico multidisciplinar com um tema inusitado em terras de hegemonia coletivista: a II Semana da Liberdade, realizada em Fortaleza. Queria escrever algo a respeito, mas o texto abaixo, de Bruno Garschagen já disse tudo. Assim, reproduzo para vocês.

Um depoimento afetuoso sobre a II Semana da Liberdade - Por Bruno Garschagen

Ontem, sentado na sala de embarque do aeroporto de Fortaleza à espera do voo de volta para casa, experimentei aquela prazerosa experiência intelectual e de afeto que só os grandes momentos nos permitem. E relembrar os dois dias da II Semana da Liberdade, e quatro dias na cidade, era, especialmente, reviver cada encontro e reencontro, cada gesto de respeito e de carinho de cada um dos organizadores, de cada um dos palestrantes, e de cada uma das pessoas que conheci e que gentilmente se aproximou para um cumprimento, para uma foto, para um contato, que, mesmo sendo breve, teve importância para mim. Recordar aqueles dias era desfrutar do aprendizado pelas palestras e pelas conversas nos intervalos, nos almoços e jantares.

E reviver aqueles momentos era, sobretudo, perceber que a virtude que os fundamentava e os tornava grandiosos poderia ser resumida nas palavras do presidente do Instituto Liberal do Nordeste, Rodrigo Saraiva Marinho, no encerramento do evento: as ideias da liberdade são defendidas por pessoas boas que se preocupam com o próximo. E é a aliança de ideias virtuosas com pessoas valorosas que tem o poder de gerar mudanças para melhor, e de colaborar para desenvolver uma sociedade que valorize a cultura da liberdade concreta, que defina a trajetória de sua própria história e que dite o rumo dos acontecimentos ao orientar, pelos seus princípios, valores e atitudes, a ação dos políticos e das instituições políticas, não o contrário.

Afirmei em minha palestra sobre a vida intelectual que um dos seus elementos essenciais é a humildade, entendida como a virtude de reconhecer as próprias limitações e trabalhar para superá-las. Reconhecer as próprias limitações exige estar disposto e disponível para admitir e lidar com as próprias fraquezas e falhas circunstanciais e fazer delas um estímulo na longa caminhada pela busca do conhecimento e para se tornar uma pessoa melhor, influenciando de forma benéfica aqueles que gravitam ao seu redor. É uma das características que, a meu ver, colaboram na formação de pessoas valorosas e no desenvolvimento de ideias virtuosas.

É uma alegria verificar que em vários cantos do país se constrói, de forma espontânea e não-centralizada, mas colaborativa, a aliança entre pessoas valorosas e ideias virtuosas. Um evento como a II Semana da Liberdade, e tantos outros que estão sendo organizados e planejados em várias regiões do país, é uma valiosa contribuição nesse processo de transição que o Brasil vive e que poderá gerar bons frutos se fizermos o nosso trabalho de maneira adequada e baseado nos melhores valores e princípios, que, em maior ou menor medida, integram a nossa identidade, mas que, por algumas razões que pretendo mostrar no meu livro para a Editora Record, foram gradualmente atacados, relativizados, diluídos, ridicularizados e, em alguns casos, anulados por pessoas chafurdadas em projetos de poder e em ideologias autoritárias. 

Um dos grandes desafios é resgatar em nós mesmos e nas pessoas que estão à nossa volta a certeza de que o bem e o correto são a única alternativa ao mal e ao incorreto, e que há princípios e valores inegociáveis sem os quais não teremos uma sociedade virtuosa e próspera fundamentada na confiança e no respeito mútuos.

É difícil controlar a emoção ao relembrar os momentos especiais para os quais cada um dos organizadores, dos palestrantes e dos participantes contribuiu de maneira valiosa. O evento foi primoroso, organização impecável, e encontrá-los, reencontrá-los e conhecê-los, e ter a oportunidade de aprender, foi uma experiência engrandecedora. Aprender com as palestras de Paulo Eduardo Martins, Fabiana Botelho, Evandro Faria, Adrualdo Catão, Wanderlei Filho, Rafael Saldanha, Tatiana Gabbi, André de Holanda, Raduán Melo, Filipe Rangel Celeti, Lourival Filho, Bernardo Santoro, Rodrigo Saraiva Marinho e Guillermo Luis Covernton, este gigante da Escola Austríaca na Argentina, além da palestra e da sensível e justa homenagem ao professor Ubiratan Iorio (a partir de 1h46min), este gigante da Escola Austríaca no Brasil, um dos pontos altos do evento.

Ver de perto como as ideias da liberdade ganharam corpo e consistência no Ceará é também relembrar a primeira vez que lá estive em 2009 junto com Lucas Mafaldo, Diogo Costa e Adolfo Sachsida para duas palestras do primeiro Liberdade na Estrada. Naquele ano, um pequeno grupo de interessados plantou a semente que hoje aparece como uma árvore frondosa. Driblando todas as dificuldades, Cibele Bastos, Raduán Melo, Jeová Costa Lima, Bruno Aguiar conseguiram organizar um evento improvável na faculdade privada FA7 e na Universidade Federal do Ceará. Revê-los agora, ainda comprometidos com as ideias da liberdade, foi uma alegria combinada com aquele sentimento de que o trabalho realizado lá atrás não foi em vão, e pode ser considerado a origem do bem-sucedido grupo de estudos Dragão do Mar, do Instituto Liberal do Nordestee da Rede Libertária.

Não sei como agradecer de forma suficiente o respeito e o carinho com que organizadores e público me receberam e me acolheram, e por fazerem da II Semana da Liberdade uma das mais belas e ricas experiências da minha vida. 

E que venha a III Semana da Liberdade.